Métodos aplicados permitem parto e a fabricação de leite durante todo o ano. Os queijos feitos com o leite de búfala conquistam um espaço cada vez maior no mercado brasileiro e, com isso, foram criadas mais oportunidades para os criadores no campo. Uma fazenda em São Paulo investe em tecnologia para garantir partos e a produção do leito durante todo o ano.
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Os irmãos Fábio e Ricardo Cotrim dividem o negócio das búfalas. Um cuida da fazenda, enquanto o outro é o responsável pelo leite. Outro irmão deles, o Rodrigo, também já colaborou com a produção, auxiliando na parte comercial da empresa.
Antes de encontrar o mercado de búfala, a família Cotrim já trabalhou com confecção, posto de gasolina, motéis, construção, restaurante e na criação de gado e ovinos.
Nascidos e crescidos na capital paulista, a vida no campo veio a partir de um hobby do pai deles, que começou a criar vacas que davam leite. Para não desperdiçar o alimento, deu-se início a uma preparação de queijos, mas voltado aos amigos da família.
A atividade foi crescendo até que se tornou em um verdadeiro empreendimento.
A troca do animal veio tempos depois, quando conheceram a empresa Búfalo Dourado, que produzia laticínios. Após se interessarem pelo projeto, os irmãos Cotrim resolveram investir nele e adquiriram a marca, juntamente com as búfalas e o produto.
Atualmente, eles possuem uma gama de mercadorias que engloba o requeijão de búfala, a manteiga, o queijo frescal, mozzarella em trança e a burrata, responsável por 30% da produção.
Parto o ano todo
O primeiro desafio do setor que teve de ser enfrentado pelos irmãos foi o fato de as búfalas não produzirem quase nada de leite entre novembro e março. Para sanar este problema, eles adotaram uma técnica utilizadas por criadores de bovino: a IATF, que é inseminação artificial em tempo fixo.
Com ela, é possível ter partos programados o ano todo e, por consequência, regularizar o fornecimento de leite mesmo em meses mais chuvosos, quando acaba o período natural de cria destes animais.
Na prática, a fêmea é submetida a uma indução hormonal cerca de 30 dias depois do parto. O processo é realizado após uma avaliação do útero e do ovário da búfala, que, em seguida, é submetida a um implante de progesterona e um hormônio à base de benzoato de estradiol, conta o veterinário da fazenda Walter Binotti.
Cerca de 10 dias depois deste tratamento, ela recebe mais hormônios e, no dia seguinte, exatamente às 15 horas, acontece a inseminação. É essencial respeitar o número de dias e o horário, bem como ter qualidade no sêmen utilizado.
A gestação dura em média 300 dias. Na fazenda dos irmãos Cotrim, a taxa de prenhez é de 60%, ou seja, a cada 100 fêmeas, 60 ficam prenhas.
A técnica ajuda também a melhorar a genética dos búfalos e na seleção da raça mediterrâneo, preferida pelos produtores por ser de animais compactos, de porte médio, pele escura e pelos grossos que fornecem leite e carne bons.
Antes da metodologia, todos os búfalos eram mestiços. Hoje, todo bezerro que nasce é desta raça.
Búfalo gringo
As fêmeas, bem como o sêmen utilizado, vêm da Itália. O país foi escolhido devido à origem do queijo mozzarella e por ser o local de ascendência do rebanho, assim, deixando a qualidade do produto final semelhante à italiana.
Além disso, trazer o sêmen de fora auxilia a fazenda a driblar um problema comum nas criações brasileiras de búfalo: a consanguinidade, ou seja, o cruzamento entre parentes, ainda que distantes.
Dá para lucrar com bezerros
O investimento em genética permitiu que a fazenda ingressasse na venda de animais, gerando, inclusive, uma fila de espera em relação aos bezerros que ainda irão nascer.
As fêmeas são vendidas com 5 meses de idade por cerca de R$ 3 mil. Os machos são mais baratos, ficando na casa dos R$ 500. Estes são comercializados para uma fazenda que cria búfalos para engorda e, no futuro, são encaminhados para a produção de carne.
Por sua importância ao negócio, os filhotes são cuidados tão logo nascem. Eles fazem a cura do umbigo e recebem leite duas vezes por dia, até começarem a receber ração e água.
A partir dos 60 dias, os machos seguem para os novos donos e as fêmeas passam a viver em piquetes onde podem pastar.
Qualidade não é quantidade
Para melhorar a eficiência do produto final, os irmãos Cotrim decidiram abandonar a cria em espaços fechados e começaram a deixar as búfalas soltas no pasto. Com isso, foi possível reduzir os custos de cerca de R$ 12 por animal para R$ 4.
Eles também optaram por diminuir o número de cabeças que realizam a lactação, que passou de 500 para 150.
Os animais mudam de piquete todos os dias devido ao pastejo racionado. São 18 piquetes, tendo 7 hectares cada um, divididos em formato de pizza.
O pasto possui uma estrutura do pivô de irrigação, contendo um bebedouro, assim os animais se locomovem menos para buscar água.
Também por causa da irrigação, os pastos estão sempre verdes e o excedente vira feno, que é vendido para outros criadores da região.
Ordenha sem filhote
Duas vezes por dia, as búfalas são ordenhadas. Cada fêmea produz cerca de 9 litros diariamente, um volume menor comparado à produção de vacas, mas que na indústria acabam rendendo mais.
Para fazer um quilo de queijo, por exemplo, são necessários 10 litros de leite de vaca, no caso do de búfala, são apenas 5 litros.
Toda a ordenha é realizada sem a presença dos bezerros e este era um dos objetivos para a produção, que levou 5 anos para ser alcançado. As fêmeas que precisavam dos filhotes para conseguir liberar o leite foram vendidas, enquanto as demais permaneceram reproduzindo.
A partir deste procedimento, foi possível agilizar o tempo de ordenha em 50%.
Parte deste leite vai para a produção da burrata, que chegou à fazenda em 2014. Para isso, os irmãos foram à Itália aprender as técnicas e ainda trouxeram queijeiros do país para dar continuidade ao aprendizado.
Hoje, a produção do queijo deve chegar em meio milhão de unidades.
Investimento atraí investimento
As mudanças implementadas também permitiram um maior investimento na indústria. Os irmãos Fábio, Rodrigo e Ricardo desenvolvem dois tipos de leite, que processam diariamente 10 mil litros, tanto da fazenda, quanto de outros produtores da região.
Em 2020, eles passaram a integrar uma plataforma de produção de queijo gerida por um fundo de investimentos, focado em agronegócio e em médias empresas do setor. Por meio dele, foi possível expandir o negócio para outros produtores, bem como trazer mais tecnologia e melhoria aos processos.
Antes do fundo, a empresa vendia basicamente para São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre devido à logística de entregar um produto fresco aos clientes. Atualmente, este mercado foi ampliado, porque, com o investimento, ocorreu uma melhoria na segurança do produto para manter a qualidade no envio.
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Os irmãos Fábio e Ricardo Cotrim dividem o negócio das búfalas. Um cuida da fazenda, enquanto o outro é o responsável pelo leite. Outro irmão deles, o Rodrigo, também já colaborou com a produção, auxiliando na parte comercial da empresa.
Antes de encontrar o mercado de búfala, a família Cotrim já trabalhou com confecção, posto de gasolina, motéis, construção, restaurante e na criação de gado e ovinos.
Nascidos e crescidos na capital paulista, a vida no campo veio a partir de um hobby do pai deles, que começou a criar vacas que davam leite. Para não desperdiçar o alimento, deu-se início a uma preparação de queijos, mas voltado aos amigos da família.
A atividade foi crescendo até que se tornou em um verdadeiro empreendimento.
A troca do animal veio tempos depois, quando conheceram a empresa Búfalo Dourado, que produzia laticínios. Após se interessarem pelo projeto, os irmãos Cotrim resolveram investir nele e adquiriram a marca, juntamente com as búfalas e o produto.
Atualmente, eles possuem uma gama de mercadorias que engloba o requeijão de búfala, a manteiga, o queijo frescal, mozzarella em trança e a burrata, responsável por 30% da produção.
Parto o ano todo
O primeiro desafio do setor que teve de ser enfrentado pelos irmãos foi o fato de as búfalas não produzirem quase nada de leite entre novembro e março. Para sanar este problema, eles adotaram uma técnica utilizadas por criadores de bovino: a IATF, que é inseminação artificial em tempo fixo.
Com ela, é possível ter partos programados o ano todo e, por consequência, regularizar o fornecimento de leite mesmo em meses mais chuvosos, quando acaba o período natural de cria destes animais.
Na prática, a fêmea é submetida a uma indução hormonal cerca de 30 dias depois do parto. O processo é realizado após uma avaliação do útero e do ovário da búfala, que, em seguida, é submetida a um implante de progesterona e um hormônio à base de benzoato de estradiol, conta o veterinário da fazenda Walter Binotti.
Cerca de 10 dias depois deste tratamento, ela recebe mais hormônios e, no dia seguinte, exatamente às 15 horas, acontece a inseminação. É essencial respeitar o número de dias e o horário, bem como ter qualidade no sêmen utilizado.
A gestação dura em média 300 dias. Na fazenda dos irmãos Cotrim, a taxa de prenhez é de 60%, ou seja, a cada 100 fêmeas, 60 ficam prenhas.
A técnica ajuda também a melhorar a genética dos búfalos e na seleção da raça mediterrâneo, preferida pelos produtores por ser de animais compactos, de porte médio, pele escura e pelos grossos que fornecem leite e carne bons.
Antes da metodologia, todos os búfalos eram mestiços. Hoje, todo bezerro que nasce é desta raça.
Búfalo gringo
As fêmeas, bem como o sêmen utilizado, vêm da Itália. O país foi escolhido devido à origem do queijo mozzarella e por ser o local de ascendência do rebanho, assim, deixando a qualidade do produto final semelhante à italiana.
Além disso, trazer o sêmen de fora auxilia a fazenda a driblar um problema comum nas criações brasileiras de búfalo: a consanguinidade, ou seja, o cruzamento entre parentes, ainda que distantes.
Dá para lucrar com bezerros
O investimento em genética permitiu que a fazenda ingressasse na venda de animais, gerando, inclusive, uma fila de espera em relação aos bezerros que ainda irão nascer.
As fêmeas são vendidas com 5 meses de idade por cerca de R$ 3 mil. Os machos são mais baratos, ficando na casa dos R$ 500. Estes são comercializados para uma fazenda que cria búfalos para engorda e, no futuro, são encaminhados para a produção de carne.
Por sua importância ao negócio, os filhotes são cuidados tão logo nascem. Eles fazem a cura do umbigo e recebem leite duas vezes por dia, até começarem a receber ração e água.
A partir dos 60 dias, os machos seguem para os novos donos e as fêmeas passam a viver em piquetes onde podem pastar.
Qualidade não é quantidade
Para melhorar a eficiência do produto final, os irmãos Cotrim decidiram abandonar a cria em espaços fechados e começaram a deixar as búfalas soltas no pasto. Com isso, foi possível reduzir os custos de cerca de R$ 12 por animal para R$ 4.
Eles também optaram por diminuir o número de cabeças que realizam a lactação, que passou de 500 para 150.
Os animais mudam de piquete todos os dias devido ao pastejo racionado. São 18 piquetes, tendo 7 hectares cada um, divididos em formato de pizza.
O pasto possui uma estrutura do pivô de irrigação, contendo um bebedouro, assim os animais se locomovem menos para buscar água.
Também por causa da irrigação, os pastos estão sempre verdes e o excedente vira feno, que é vendido para outros criadores da região.
Ordenha sem filhote
Duas vezes por dia, as búfalas são ordenhadas. Cada fêmea produz cerca de 9 litros diariamente, um volume menor comparado à produção de vacas, mas que na indústria acabam rendendo mais.
Para fazer um quilo de queijo, por exemplo, são necessários 10 litros de leite de vaca, no caso do de búfala, são apenas 5 litros.
Toda a ordenha é realizada sem a presença dos bezerros e este era um dos objetivos para a produção, que levou 5 anos para ser alcançado. As fêmeas que precisavam dos filhotes para conseguir liberar o leite foram vendidas, enquanto as demais permaneceram reproduzindo.
A partir deste procedimento, foi possível agilizar o tempo de ordenha em 50%.
Parte deste leite vai para a produção da burrata, que chegou à fazenda em 2014. Para isso, os irmãos foram à Itália aprender as técnicas e ainda trouxeram queijeiros do país para dar continuidade ao aprendizado.
Hoje, a produção do queijo deve chegar em meio milhão de unidades.
Investimento atraí investimento
As mudanças implementadas também permitiram um maior investimento na indústria. Os irmãos Fábio, Rodrigo e Ricardo desenvolvem dois tipos de leite, que processam diariamente 10 mil litros, tanto da fazenda, quanto de outros produtores da região.
Em 2020, eles passaram a integrar uma plataforma de produção de queijo gerida por um fundo de investimentos, focado em agronegócio e em médias empresas do setor. Por meio dele, foi possível expandir o negócio para outros produtores, bem como trazer mais tecnologia e melhoria aos processos.
Antes do fundo, a empresa vendia basicamente para São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre devido à logística de entregar um produto fresco aos clientes. Atualmente, este mercado foi ampliado, porque, com o investimento, ocorreu uma melhoria na segurança do produto para manter a qualidade no envio.
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