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Pecuária, lácteos, frango, arroz, soja e hortifruti: entenda como enchentes no Sul afetam produção, preços e logística do Agro

Representantes dos setores, consultados pelo Cepea, em Piracicaba (SP), elencam desafios enfrentados sem conseguir estimar extensão de prejuízos. Veja dados de cada área em relatórios feitos para USP. Imagem de drone feita em 5 de maio de 2024 mostra casas destruídas pelas enchentes em Jacarezinho, no Rio Grande do Sul.
REUTERS/Diego Vara
As enchentes que devastam o Rio Grande do Sul desde o fim de abril deixaram centenas de mortos e desalojados até esta quinta-feira (9), segundo boletim da segundo a Defesa Civil, e preocupam pecuaristas, agricultores e demais agentes do setor quando ao futuro no campo e no mercado. ‘Os prejuízos ainda são incalculáveis’, afirmam.
Os reflexos das fortes chuvas já são percebidos nas pecuárias de corte e leiteira, na cadeia produtiva das carnes de frango e porco, no cultivo da soja, nas lavouras de arroz do estado, um dos maiores produtores do cereal no país, e hortifruti.
‘Misto de desânimo e desespero’, disseram colaboradores pecuaristas aos pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o campus da USP em Piracicaba (SP).
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada divulgou relatórios com dados sobre cotações, impactos nos cultivos e manejo das pastagens, reflexos nos insumos e nos preços, bem como no escoamento dos produtos.
Problemas de logística devido aos bloqueios nas estradas e pontes destruídas, falta de energia elétrica, solos encharcados, além de plantações e pastagens completamente alagadas são alguns dos desafios enfrentados pelos agentes consultados pelo Cepea. 👇 – Leia em detalhes, abaixo.
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Pecuária: animais arrastados e desafios no manejo do rebanho
Os pesquisadores do Cepea apontam que, além de pontes e estradas destruídas, as pastagens seguem inundadas pela água e animais foram arrastados pela enxurrada.
“Mesmo nas regiões que não foram inundadas, os solos estão encharcados, dificultando o manejo dos rebanhos. Pecuaristas consultados pelo Cepea mostram um misto de desespero e desânimo”, descreve relatório.
Pecuária gaúcha
Reprodução/RBS TV
Frigoríficos interrompem atividades
Frigoríficos consultados pelo Cepea afirmaram que precisaram interromper as atividades, seja por terem sido atingidos pela água ou pela dificuldade de locomoção dos funcionários.
“O transporte dos animais e da carne também está comprometido. Representantes da indústria informam ao Cepea que alguns poucos permanecem ativos apenas para compras, mas sem previsão para os embarques. Feiras e exposições previstas para maio têm sido suspensas”, observa.
Insumos
O segmento de insumos também enfrenta dificuldades de escoar rações e outros itens essenciais para as propriedades rurais.
“Diante da gravidade da situação, agentes de todos os elos da pecuária consultados pelo Cepea ainda têm dificuldades de planejar os próximos dias. Quanto a possíveis impactos desse cenário ao restante do Brasil, pesquisadores do Cepea destacam que, no Rio Grande do Sul, são criadas predominantemente raças europeias, mais adaptadas ao clima frio”, pondera.
Assim, o gado e a carne desse estado não têm grande circulação em outras regiões, e, por isso, as ocorrências recentes não devem influenciar significativamente as negociações pecuárias do País. Em 2023, pelo porto de Rio Grande (RS), foram exportados 2,9% da carne bovina.
Suínos: ritmo lento
As enchentes no Rio Grande do Sul dificultam os transportes de suíno vivo para abate, de carnes aos mercados atacadistas e também de insumos utilizados pela atividade.
“Como resultado da queda de pontes e destruição de estradas que interligam importantes regiões produtoras, o ritmo de negócios dentro e fora do estado está bastante lento. É importante ressaltar que alguns municípios não abrangidos pela pesquisa do Cepea foram atingidos com maior intensidade, com relatos de perda de animais e estragos mais graves”, pontua.
Em 2023, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado com o maior abate de suínos, equivalente a 19,87%, em termos percentuais, sendo 9,2 milhões de cabeças abatidas naquele período. Além disso, o estado gaúcho representou 23,1% do total exportado de carne suína no ano passado.
Com as mudanças climáticas, há desafios crescentes para a produção de leite em todo o mundo, destaca pesquisadora do Cepea
Getty Images
Setor lácteo
O setor lácteo já sente os reflexos dos temporais e enchentes no Rio Grande do Sul.
“Áreas afetadas em todo o estado e estradas/rodovias interrompidas, a circulação de insumos, do leite cru e dos lácteos vem sendo prejudicada. Além disso, a falta de energia elétrica e de água assolam diversas regiões, refletindo em toda cadeia produtiva”, aponta relatório do Cepea.
Pesquisadores do Cepea alertam, ainda, que o comportamento sazonal dos preços ao produtor pode ser alterado.
“Há laticínios que interromperam a produção, seja por danos causados em suas estruturas industriais, falta de energia elétrica ou pela impossibilidade de efetuar a captação do leite cru nas fazenda, Laticínios e cooperativas que ainda mantêm suas atividades relatam esforços em conjunto para conseguir viabilizar a captação de leite cru”, afirmam.
Apesar das perdas, buscam alternativas para captar o leite de propriedades menos afetadas e para realizar a distribuição de lácteos. Essas rotas, porém, elevam o custo logístico da operação, conforme apontado pelos agentes de mercado.
Produção leiteira
Shutterstock
Falta de energia impacta automação
A dificuldade de acesso às fazendas prejudica a aquisição sobretudo de ração, com relatos de racionamento e menor produção devido à má alimentação do rebanho. Há, também, relatos de situações mais críticas que resultam em descarte de leite no campo, devido à falta de ração, energia elétrica e combustível.
“A falta de energia elétrica impacta sobremaneira o setor: no campo, impede a automação da ordenha e o resfriamento do leite; na indústria, o processamento dos lácteos e sua conservação. Fazendas e laticínios que seguiram operando contaram com geradores e combustível para sua alimentação. A falta desses itens inviabiliza a produção do leite cru e dos lácteos em muitas regiões do estado nesse momento”, lamentam os agentes consultados pelo Cepea.
O abastecimento de lácteos para os canais de distribuição tem sido bastante prejudicado, principalmente por conta da situação calamitosa de Porto Alegre e da região central do estado. Com isso, há grande dificuldade de escoamento, o que compromete o abastecimento não apenas no Rio Grande do Sul, mas também em outros estados.
Colaboradores do Cepea afirmam que os prejuízos são visivelmente enormes, mas ainda incalculáveis.
Preços
Sazonalmente, a produção de leite no Rio Grande do Sul tende a se elevar a partir da metade de abril, de modo que maio, junho e julho são meses em que, normalmente, a oferta sobe, devido às pastagens de inverno – e os preços, consequentemente, caem. Essa janela de produção possibilita que os lácteos do Sul abasteçam outros estados – já que, tipicamente, esse período marca a entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste.
“Neste ano, contudo, o cenário deve ser diferente ao refletir os problemas causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Com redução da produção do leite no estado em maio, os preços ao produtor podem se comportar de maneira atípica”, disse.
Agentes de mercado consultados pelo Cepea acreditam que as perdas estruturais no campo e nas indústrias podem retardar a recuperação da oferta do leite cru e dos lácteos. Com isso, a perspectiva de preços ao produtor em alta se fortalece para este e para os próximos meses.
Demanda e repasses
Mesmo com muitas famílias desabrigadas, as compras institucionais de lácteos podem sustentar a demanda, aponta o Cepea. De qualquer maneira, o aumento dos custos logísticos deve ser repassado às cotações dos lácteos.
“Não se tem, até o momento, uma projeção da intensidade dessas variações nos preços do leite cru e dos lácteos, na medida em que os agentes da cadeia ainda calculam os impactos e prejuízos das enchentes no Rio Grande do Sul”, completam.
Maçã
K8/ Unsplash
Hortifruti
Frutas e hortaliças pesquisadas pelo Hortifrúti/Cepea, também têm produção e mercado impactados pelas chuvas no Sul.
A fronteira de Porto Xavier (RS) mudou o cenário das importações da cebola, por exemplo. Colaboradores do Hortifrúti/Cepea destacam que os bulbos importados têm perdido qualidade, devido à alta umidade e ao tempo de espera para transporte.
“Até a última sexta-feira, 3, a travessia de balsas ainda ocorria, mas o escoamento das cebolas pode ser prejudicado, já que parte do estado se encontra intransitável por conta dos danos causados nas estradas. Para a cenoura, pesquisadores do Cepea apontam cenário crítico na região de Caxias do Sul”, ressalta relatório.
“Estima-se que as inundações levem à uma janela de oferta, podendo dificultar, inclusive, a retomada das áreas afetadas”, prevê.
Cenoura teve aumento de 72,71%
Pixabay
Dentre os produtos hortifrutícolas acompanhados pelo Cepea no Sul, o mais prejudicado foi a cenoura. O Cepea ainda não conseguiu levantar a extensão das perdas na praça produtora de Caxias do Sul (RS), mas o cenário é crítico. Em Vacaria (RS), localizada em uma altitude mais elevada, os impactos do temporal foram menos severos
A colheita de maçã fuji será afetada com atraso das atividades, possível aumento da incidência de doenças nos pomares e impactos na logística, para distribuição da fruta aos outros estados, uma vez que as estradas estão bloqueadas.
Rio Grande do Sul é segundo maior estado produtor de soja no Brasil
Reprodução/TV Globo
Soja
As chuvas, quando em grande volume, retardam as atividades de campo e podem afetar qualidade das lavouras. “O excesso de umidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta de boa qualidade deste subproduto, especialmente para a indústria alimentícia”, explica o Cepea, que ressalta o Rio Grande do Sul como segundo maior estado produtor de soja no Brasil.
Arroz
Lavoura de arroz convencional em Viamão
Celso Tavares / g1
A colheita, que já estava bastante atrasada em relação aos anos anteriores, pode ser ainda mais prejudicada. Os preços do arroz, que também apresentaram movimentos de queda em março, poderão ser afetados. – 👇Leia mais, abaixo, na reportagem.
Colaboradores consultados pelo Cepea relatam que a tempestade da noite da última segunda-feira (29) deixou lavouras debaixo d’água, inviabilizando as atividades; além de interditar estradas, o que também dificultou o carregamento do cereal.
“Esse cenário aumenta as incertezas quanto à produtividade da safra 2023/24, ainda conforme apontam pesquisadores do Cepea. Dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) divulgados no dia 22 de abril indicavam que, até aquele momento, a média era de 8.612 quilos por hectare no estado”, apontou o Cepea nesta quinta-feira (2).
O volume de chuva que caiu sobre o Rio Grande do Sul nos últimos quatro dias equivale a três vezes a média para esta época do ano, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
“O Rio Grande do Sul é o principal estado produtor de arroz do Brasil. As intensas chuvas desta semana têm o potencial de reduzir significativamente as rendas dos orizicultores do estado. Trazem também preocupação com o abastecimento no Brasil e seus impactos custo de vida das famílias, especialmente as mais pobres”, analisam os pesquisadores do Cepea.
Arroz deve ter redução da safra no RS
Reprodução/RBS TV
Dificuldade de vendas e quedas nos preços
A média ponderada do arroz em casca no Rio Grande do Sul, representada pelo Indicador Cepea/Irga-RS apresentou movimentos distintos em março. Nas três primeiras semanas do mês de março deste ano, segundo o Cepea, o cenário foi de 5,27% de queda e, no último período, de ligeira recuperação (+0,10%).
De acordo com medições do Cepea, a média mensal do Indicador passou para R$ 100,41 a saca de 50 quilos, um recuo de 10,97% na comparação com fevereiro deste ano.
“Apesar de inferior, a marca ainda é 21,6% maior a de março de 2023 em termos reais, deflacionado pelo IGP-DI. O movimento de baixa esteve atrelado às dificuldades nas vendas (quanto a preços e ao volume) para o atacado e o varejo e, também, ao andamento da colheita no principal estado produtor, o Rio Grande do Sul”, analisam os pesquisadores do Cepea para o setor de arroz.
Disparada no preço internacional do arroz vira oportunidade para agricultores brasileiros
Reprodução/ TV Globo
Valorização do dólar
Um tímido avanço nos preços no final de março é explicado pela presença mais ativa de compradores, especialmente do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste, com negócios realizados para o mercado doméstico e para exportação.
A demanda de tradings no porto de Rio Grande (RS) se aqueceu, favorecida pela valorização do dólar.
“Entre 1° e 28 de março deste ano, a moeda norte-americana subiu 1,15%, cotada a R$ 5,01 no dia 28. Entretanto, as negociações realizadas no spot ou via contratos a termo para exportação foram limitadas pela disparidade de preços e prazos de pagamento”, especifica o Cepea.
Em relação às microrregiões que compõem o Indicador, houve quedas de 11,98% na Fronteira Oeste e de 11,71% na Planície Costeira Interna entre fevereiro e março deste ano, com respectivas médias de R$ 98,21/sc de 50 quilos e R$ 102,65/sc no último mês.
Ainda segundo boletim divulgado pelo Cepea em abril, as quedas estiveram próximas de 10%, com médias de R$ 102,93/sc, R$ 102,84/sc, R$ 98,85/sc e R$ 98,62 na Zona Sul, Planície Costeira Externa, Depressão Central e Campanha.
Em relação aos demais rendimentos, a média estadual sul-riograndense para o produto de 63% a 65% de grãos inteiros caiu11,63% entre fevereiro e março de 2024, a R$ 102,42/sacas de 50 quilos.
Para os grãos com 59% a 62% de grãos inteiros, a baixa foi de 10,81%, a R$ 101,21/sc. Quanto ao produto de 50% a 57% de grãos inteiros, houve queda de 9,58% em igual comparativo, para R$ 98,11/sc.
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Campo
Dados da Emater/RS divulgados no último dia 28 indicam que 25% da área cultivada com arroz foi colhida no Rio Grande do Sul.
“Quanto aos demais estados produtores, segundo a Conab, o destaque é Santa Catarina, com 75% já colhido. Em seguida estão Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Maranhão, com 40%, 32%, 15% e 5% já colhidos, respectivamente, até o último dia 25”, apontam pesquisadores do Cepea.
Clima adverso
Quanto aos impactos do clima adverso no maior estado produtor de arroz, conforme do Cepea, a Emater/RS ressalta que os prejuízos causados por enxurradas e pelo acamamento nas lavouras variam de acordo com o estágio de desenvolvimento da planta.
“Nas áreas em estágios iniciais, a expectativa é que os danos tenham sido menores. Em várias localidades, o arroz vem apresentando desenvolvimento satisfatório”, conclui o Cepea.
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Fonte:

g1 > Agronegócios

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