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‘Sisteminha’: projeto de incentivo a agricultura familiar transforma quintal em miniatura de fazenda

Embrapa usa tecnologia e treinamento para capacitar famílias a produzir alimentos em casa. Projeto com potencial de combate à fome já foi exportado para oito países. Plantação de hortaliças com técnica do Sisteminha, da Embrapa
José Rey Santos Souza/Embrapa
Pense em um terreno de aproximadamente 100 metros quadrados. Nele, há uma casa com um ou dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Do lado de fora, há um tanque com peixes descarregando nutrientes na água, que ajuda a irrigar um pequeno terreno com sementes de milho e feijão. E, se ainda sobrar espaço, coloque um pequeno galinheiro com duas ou três galinhas.
É este o cenário mais comum entre as famílias brasileiras, com média de cinco pessoas cada, que já colocaram em prática o Sistema de Produção Integrada de Alimentos, conhecido como Sisteminha.
Com potencial de combater a insegurança alimentar, o projeto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já foi empregado em 14 estados brasileiros, além de oito países africanos – Angola, Camarões, Etiópia, Gana, Moçambique, Senegal, Tanzânia e Uganda – e deve chegar a nações da América do Sul em breve.
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O objetivo é tornar uma casa autossustentável. Primeiro, garantir nutrição da própria família. E depois fazer com que o excedente vire renda. O projeto custa cerca de R$ 25 mil por família e atualmente é colocado em prática a partir de incentivos do setor privado e iniciativas públicas de combate à fome.
Frango e peixes são alguns dos alimentos produzidos por meio do Sisteminha, da Embrapa
Divulgação/Embrapa
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a insegurança alimentar grave atinge em torno de 735 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são 20,1 milhões.
“Geralmente, as famílias que participam já estão em situação de vulnerabilidade há anos e dificilmente terão acesso a uma linha de crédito que as permita pagar a médio prazo a implantação do Sisteminha”, afirma o pesquisador da Embrapa e idealizador do projeto, Luiz Carlos Guilherme.
Ele aposta em uma parceria anunciada no final de março entre a Embrapa e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar para a implantação de 1 mil unidades do projeto que, agora, ganha um outro perfil. O Sisteminha quer abastecer grupos maiores de pessoas e vai começar a ser implantado em comunidades quilombolas e indígenas no Norte e Nordeste do Brasil.
“A colaboração entre pesquisadores, formuladores de políticas e a sociedade civil será essencial para enfrentar os desafios persistentes e criar um futuro mais justo e seguro para todos”, reforça o estudo.
Com tecnologias e inovações voltadas para a agropecuária sustentável, a Embrapa é uma das empresas participantes da 29ª edição da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Considerada uma das maiores de tecnologia agrícola do mundo, a feira acontece de 29 de abril a 3 de maio e espera receber 200 mil visitantes. Em 2023, o evento movimentou R$ 13,2 bilhões em negócios.
Treinamento, paciência e conscientização
Segundo a Embrapa, o Sisteminha tem quatro princípios básicos:
Miniaturização: Estruturas simples e compactas, adaptáveis a qualquer cantinho.
Replicabilidade: Pode ser reproduzido em diferentes locais, com recursos disponíveis.
Escalonamento da produção: Cresce conforme a demanda e a capacidade da família.
Segurança alimentar e nutricional: Além de alimentar, nutre a esperança.
A entidade acaba de lançar um curso online de 30 horas para capacitação gratuita para interessados em colocar a ideia em prática por conta própria.
“O que temos notado é cada vez mais o interesse de famílias que não estão em situação de pobreza extrema, mas que desejam ter uma alimentação mais sustentável e acabam implantando o projeto por mais qualidade de vida”, afirma Luiz Carlos Guilherme.
Aviário do Sisteminha, da Embrapa
Flávia Raquel Bessa Ferreira/Embrapa
São cinco opções de conjuntos de produção. Cada família opta pelo que mais interessa ou pelo que mais se adequa ao espaço disponível. Há locais melhores para criação de porcos do que de galinha, terrenos com mais potencial para plantar melancia do que mandioca, por exemplo.
Também é preciso paciência. Segundo o pesquisador, o Sisteminha demora em média 90 dias para mostrar resultados efetivos.
“Há um treinamento intensivo para que a pessoa entenda como funciona o sistema. Por exemplo, não adianta você receber um animal, um pintinho das raças GLK, ISA Brown, com a capacidade de postura de até 300 ovos por ano e não alimentá-lo com ração balanceada específica ou substituí-la por milho e outros alimentos alternativos, que não suprem a necessidade imposta pela alta produção.”
Autonomia alimentar em casa
Na tarde de domingo, 7 de abril, Milena Martins foi tomar um café e comer um bolo na casa da comadre dela. As duas são vizinhas na comunidade Quilombo São Martins, no interior do Piauí. Todos os ingredientes usados na refeição foram produzidos no quintal da pequena construção de alvenaria ou comprados a partir da venda do excedente.
“Hoje conseguimos produzir o nosso próprio alimento. Já podemos vender batatas para comprar açúcar e vender uma dúzia de ovos para comprar manteiga. A minha avaliação é totalmente positiva”, conta Milena, que é da Associação de Quilombolas e coordenadora de Apoio das Comunidades Quilombolas do Piauí.
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Em 2015, a São Martins teve o primeiro contato com o Sisteminha. Apenas uma família topou o desafio e acabou virando exemplo para os demais moradores. Em novembro de 2020, graças a iniciativas públicas, outras 25 das 103 famílias locais implantaram o projeto de forma comunitária. Organizados em cinco grupos, os moradores fizeram um mutirão para construir 25 tanques e galinheiros. O foco principal é na criação de peixes e galinhas poedeiras.
Atualmente, cada família produz entre 18 a 20 ovos por dia e até 40 quilos de tilápia a cada três meses. O próximo passo é uma linhagem industrial de frango de corte branco de peito duplo.
“O projeto estimulou a produção e a comercialização com qualidade, variou e melhorou o hábito alimentar com a inserção comercial dos produtos vindos dos nossos quintais. Antes só se consumia peixe na quaresma ou na semana santa; frutas, verduras e hortaliças vinham de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA); ovos eram sempre comprados em Paulistana (PI). Hoje temos tudo isso na comunidade, com qualidade, e ainda podemos incrementar a produção com mais estrutura”, conta Ivanete Pereira Rosa, presidente da Associação.
A comunidade compra os insumos e compartilha e troca a produção entre si. O excedente é comercializado e o lucro, dividido.
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Fonte:

g1 > Agronegócios

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