Área que deveria ser destinada exclusivamente à preservação tem criação de gado ilegal, desmatamento e trabalho análogo à escravidão. Trabalhador rural relata condições precárias em fazenda dentro de reserva: ‘Não tinha banheiro, não tinha nada’
A criação de gado ilegal foi alvo de uma operação que durou quase dois meses na Amazônia. Segundo as investigações, a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo era sistematicamente invadida por grileiros e desmatada pra abrir espaço para os animais.
Além de crimes ambientais, pessoas estavam sendo exploradas em trabalho análogo à escravidão.
Em 2021, uma família do Maranhão foi contratada para trabalhar na Fazenda Santo Antônio, dos irmãos Edner Aparecido Ferri e André Fernando Ferri, em Guarantã do Norte (MT).
Além de criar gado ilegal, os irmãos Ferri levaram a família para trabalhar em condições precárias na lida com o gado. Um dos trabalhadores mostra a água que tinham para beber.
“A água tudo da represa, necessidade nós fazia no mato, não tinha banheiro, não tinha nada. A mesma água que o boi bebia, nós bebia”, conta o trabalhador rural Gilberto Santos.
“Na cabeça dele, ele tinha só levado um calote porque segundo ele, ele foi contratado pra trabalhar por diárias. Então o fazendeiro não pagou as diárias e deixou eles aqui na cidade. E a coisa complicou quando eu perguntei: vocês trabalhavam em que horário? Quando ele me disse que pegava das 4h, 5h até 0h. Aí eu me assustei. Falei: não, isso é humanamente impossível trabalhar numa situação como essa”, ressalta o advogado.
Os irmãos Ferri estão entre as 10 pessoas mais autuadas pelo ICMBio até hoje, e acumulam, cada um, mais de R$ 40 milhões em multas por crimes ambientais. Além dos crimes ambientais, eles também foram condenados, em junho, por exploração de trabalho análogo à escravidão.
Na sentença, a juíza do Trabalho Elinay Almeida Ferreira, de Altamira, afirma que a família foi exposta a “condições de trabalho degradantes e ao trabalho infantil, configurando o trabalho em condições análoga à de escravo”.
Os irmãos Ferri dizem que não há provas de exploração de trabalho escravo e acreditam que a condenção será revertida. Também alegam que suas terras nunca foram griladas, mas adquiridas há mais de 25 anos.
A Justiça do Trabalho determinou o pagamento dos direitos trabalhistas, além de uma indenização por danos morais de R$ 100 mil a cada trabalhador, inclusive o irmão mais novo, que tinha nove anos à época.
A Prefeitura de Altamira diz que qualquer irregularidade praticada por servidores será apurada e caso seja confirmada, pode exonerar os envolvidos. A subprefeita Sandra foi multada pelo ICMBio em R$ 2,8 milhões por criar gado na reserva. Procurada, não respondeu às mensagens.
Veja a reportagem completa abaixo:
Área que deveria ser destinada exclusivamente à preservação tem criação de gado ilegal
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Em 2021, uma família do Maranhão foi contratada para trabalhar na Fazenda Santo Antônio, dos irmãos Edner Aparecido Ferri e André Fernando Ferri, em Guarantã do Norte (MT).
Além de criar gado ilegal, os irmãos Ferri levaram a família para trabalhar em condições precárias na lida com o gado. Um dos trabalhadores mostra a água que tinham para beber.
“A água tudo da represa, necessidade nós fazia no mato, não tinha banheiro, não tinha nada. A mesma água que o boi bebia, nós bebia”, conta o trabalhador rural Gilberto Santos.
“Na cabeça dele, ele tinha só levado um calote porque segundo ele, ele foi contratado pra trabalhar por diárias. Então o fazendeiro não pagou as diárias e deixou eles aqui na cidade. E a coisa complicou quando eu perguntei: vocês trabalhavam em que horário? Quando ele me disse que pegava das 4h, 5h até 0h. Aí eu me assustei. Falei: não, isso é humanamente impossível trabalhar numa situação como essa”, ressalta o advogado.
Os irmãos Ferri estão entre as 10 pessoas mais autuadas pelo ICMBio até hoje, e acumulam, cada um, mais de R$ 40 milhões em multas por crimes ambientais. Além dos crimes ambientais, eles também foram condenados, em junho, por exploração de trabalho análogo à escravidão.
Na sentença, a juíza do Trabalho Elinay Almeida Ferreira, de Altamira, afirma que a família foi exposta a “condições de trabalho degradantes e ao trabalho infantil, configurando o trabalho em condições análoga à de escravo”.
Os irmãos Ferri dizem que não há provas de exploração de trabalho escravo e acreditam que a condenção será revertida. Também alegam que suas terras nunca foram griladas, mas adquiridas há mais de 25 anos.
A Justiça do Trabalho determinou o pagamento dos direitos trabalhistas, além de uma indenização por danos morais de R$ 100 mil a cada trabalhador, inclusive o irmão mais novo, que tinha nove anos à época.
A Prefeitura de Altamira diz que qualquer irregularidade praticada por servidores será apurada e caso seja confirmada, pode exonerar os envolvidos. A subprefeita Sandra foi multada pelo ICMBio em R$ 2,8 milhões por criar gado na reserva. Procurada, não respondeu às mensagens.
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