Permissão para comprar cereal fora do Mercosul com alíquota zero vai até 31 dezembro, mas empresas de MG pedem extensão até 28 de fevereiro, em função de problemas logísticos. Já a Abiarroz, entidade representativa nacional, afirma que companhias associadas não solicitaram mais prazo. Base na refeição dos brasileiros, arroz foi um dos alimentos com maior alta
Reprodução/TV Diário
A prorrogação do prazo da cota para importar 400 mil toneladas de arroz sem tarifa de fora do Mercosul divide o setor.
A autorização do governo federal vai até o dia 31 de dezembro, mas empresas de Minas Gerais pedem extensão até 28 de fevereiro em função de problemas logísticos. Já a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) afirma que nenhuma das empresas vinculadas à entidade solicitaram prorrogação.
A estimativa da Abiarroz é de que o Brasil importe metade da cota autorizada pelo governo, um totoal de 200 mil toneladas. A Tarifa Externa Comum (TEC) foi zerada em setembro, em meio a um cenário de disparada do preço do arroz.
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O pedido de prorrogação foi feito pelo sindicato da indústria de arroz de Minas Gerais (Sindarroz/MG) após problemas de logística para a entrega de produtos adquiridos na Índia, conforme representantes do setor ouvidos pela Reuters, que citaram que a indústria ainda lida com alta dos preços.
“Tivemos falta de contêiner na Índia, porque a demanda aumentou muito e as tradings que nós negociamos também subiram os preços dos contêineres”, disse o presidente do sindicato, Jorge Tadeu Meirelles.
Ele afirmou que, das 25 mil toneladas negociadas com o mercado indiano, somente 8 mil chegaram ao Estado, e o produto passa por um deslocamento que demora em torno de 65 dias para atracar nos portos brasileiros, o que excederia a data limite para a cota.
“Também levamos em consideração que a safra nacional pode ter problemas (por seca), e no Paraguai (fornecedor do Brasil) há relatos de produtores fazendo replantio por conta do clima”, justificou.
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Diante deste cenário, Meirelles disse que o sindicato fez uma carta que passou pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), com o apoio do governo estadual, e foi direcionada à Câmara de Comércio Exterior (Camex) e ao Ministério da Agricultura.
Temas referentes a alterações tarifárias dependem de deliberação do Comitê Executivo de Gestão da Camex (Gecex).
A próxima reunião ordinária do Comitê, conforme o site da Camex, está prevista para ocorrer no dia 16 de dezembro. Em casos específicos, pode ser convocada reunião extraordinária, o que, até o momento, não ocorreu.
Procuradas, as pastas da Economia e Agricultura não fizeram comentários sobre o encaminhamento do pedido.
A Abiarroz disse, sem detalhar, que as unidades de Minas Gerais não fazem parte de seus associados e, dentre as companhias vinculadas à entidade, não foi recebida nenhuma demanda para prorrogação do prazo de isenção da TEC.
“Tem entidades comentando de pedir uma prorrogação das cotas, não é o nosso caso”, disse a diretora-executiva da Abiarroz, Andressa Silva.
Os Estados Unidos continuam figurando como principal fornecedor, seguido pela Índia e Tailândia. O cereal da Guiana também foi adquirido, porém, há relatos de problemas no desembarque por expurgo. Em condição de anonimato, uma fonte afirmou que foram encontrados insetos em lotes do país sul-americano.
Negócios e preços
Em outubro, as importações de arroz cresceram 114% para o produto sem casca, ante igual período de 2019, mas não houve influência da cota. Segundo o Ministério da Economia, os principais fornecedores foram Uruguai, Paraguai e Argentina, países que já são isentos da tarifa de embarque.
Neste mês, até a terceira semana, dados da Secretaria de Comércio Exterior indicam que a média de importação do produto com casca disparou 291% ante novembro de 2019, para 2.169 toneladas por dia. Para o arroz sem casca, as compras saltaram 146,8%, para 4.928 toneladas diárias.
O entrada destes produtos ainda não representou quedas significativas para os preços do cereal no Brasil, mas funcionaram como um “teto” limitando maiores altas, avaliou o analista da consultoria Safras & Mercado Gabriel Viana.
O indicador do arroz em casca Esalq/Senar-RS terminou a quarta-feira cotado em 102,65 reais por saca de 50kg, valor ainda próximo do pico de 2020, de 106,34 reais, registrado em outubro –o valor também é um recorde histórico.
“Calculamos que o arroz dos Estados Unidos chega ao Brasil por 109 reais por saca sem TEC. Com a TEC, seriam 123 reais. Já o produto do Mercosul tem custado entre 112 e 115 reais por saca, isso significa que o norte-americano é a atual alternativa mais competitiva”, afirmou Viana.
Sobre a safra, ele disse que ainda não foram confirmadas perdas decorrentes da seca no Rio Grande do Sul, principal produtor do país, mas existe a possibilidade pois o nível de água nas barragens de irrigação está baixo.
“O clima em períodos de La Niña costuma ajudar o desenvolvimento do cereal, mas a longa estiagem dos últimos meses deixou os reservatórios baixos e poderá faltar água no fim do ciclo”, acrescentou o meteorologista da Somar Celso Oliveira.
Segundo ele, o estado de atenção vale tanto para o Sul do Brasil quanto para o Mercosul, pois a previsão é de chuva abaixo da média também no Uruguai, Paraguai e Argentina nos próximos meses.
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