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Vaca louca: por que novos casos no Brasil são menos graves que epidemia letal dos anos 1990


Variante atípica detectada no Brasil costuma ser detectada em grandes rebanhos e não é perigosa como a variante clássica – que provocou mortes de pessoas nos anos 1990. A doença da vaca louca provocou uma epidemia que matou animais e pessoas nos anos 1990
Getty Images via BBC
A notícia de que o Brasil suspendeu por tempo indeterminado as exportações de carne bovina para a China no fim de semana devido a identificação de dois casos de vaca louca provocou preocupações em alguns consumidores e gerou incertezas sobre o preço do produto.
O ministério da Agricultura rapidamente emitiu uma nota dizendo que os casos identificados em frigoríficos de Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte (MT) não representam risco para saúde humana ou animal.
“A medida, que passa a valer a partir deste sábado (04/09), se dará até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos.”
O frigorífico de Belo Horizonte foi interditado, segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Segundo a nota, casos atípicos como esse não são considerados graves e o Brasil continua sendo um país de “risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto no comércio de animais e seus produtos e subprodutos”.
Como a suspensão das exportações à China poderia impactar a economia brasileira
Relembre a doença que ficou conhecida nos anos 80 e 90, após surto no Reino Unido
Você sabe a diferença entre a vaca sã e a vaca louca? Relembre o meme
A suspensão das exportações para a China se deu por conta do estrito protocolo sanitário em vigor entre os dois países — e o governo brasileiro espera que nos próximos dias a exportação já possa ser normalizada.
Para muitas pessoas, a doença da vaca louca traz memórias assustadoras dos anos 1980 e 1990, quando um surto no Reino Unido levou ao abatimento de quatro milhões de cabeças de gado e a dezenas de mortes de pessoas que haviam ingerido carne contaminada — com boicotes e prejuízos bilionários aos produtores britânicos.
Então como esses casos no Brasil são diferentes do que aconteceu no Reino Unido? Isso acontece porque a variante da doença identificada no Brasil é considerada menos perigosa do que aquela que se alastrou há 30 anos. Ainda assim, a variante é monitorada de perto pela indústria e por autoridades sanitárias.
Confira algumas perguntas e respostas sobre os novos casos no Brasil.
O que é a doença da vaca louca?
A encefalopatia espongiforme bovina (EEB) — nome oficial do mal — é uma doença degenerativa que atinge o sistema nervoso do gado. É conhecida popularmente como doença da vaca louca porque os sintomas incluem agressividade e falta de coordenação. A doença também é conhecida como BSE, por causa do seu nome em inglês (bovine spongiform encephalopathy). Ela é causada por um tipo de proteína chamada príon e normalmente é fatal para os animais.
A versão humana da doença mais comum hoje em dia é conhecida como Nova Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD) e também é letal. Ela está ligada ao consumo de carne contaminada. A doença ataca o cérebro progressivamente, mas pode ficar dormente por décadas.
Os sintomas mais comuns são perda de memória, dificuldade locomotora e visual, cansaço e rápida perda de peso.
Desde 1995, quando foi identificada, a vJCD já matou 178 pessoas. Acredita-se que uma em cada 2 mil pessoas no Reino Unido seja portadora da doença. No entanto, relativamente poucas pessoas que se contaminam desenvolvem os sintomas.
Por que o caso no Brasil seria menos grave?
Isso acontece porque a variante da doença identificada no Brasil não representa um risco à saúde pública, segundo autoridades sanitárias. A doença da vaca louca pode se manifestar de duas formas — a variante clássica e a atípica.
A clássica ocorre em bovinos após a ingestão de ração contaminada com príons, enquanto a atípica pode aparecer espontaneamente em todas as populações de gado. Acredita-se que isso poderia ter acontecido agora em Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte (MT) — como também aconteceu em junho de 2019 em outra cidade no Mato Grosso.
A forma clássica da doença é a mais preocupante e foi detectada pela primeira vez em 1986. No Brasil, ela nunca foi detectada. Foi essa variante que causou o pânico e as mortes dos anos 1990. Ela se espalha rapidamente entre os animais através da ingestão de ração contaminada com príons.
Não existe cura para a doença de Creutzfeldt-Jakob — que é fatal — e o único tratamento é ajudar o paciente a conviver com os distúrbios provocados. Por isso, a principal medida de prevenção da doença é usar protocolos sanitários rígidos que impeçam o consumo de qualquer carne contaminada.
Nas últimas décadas, segundo a Organização Internacional para Saúde dos Animais, a implementação de medidas de controle resultou no declínio da variante clássica em todo o mundo.
O que se sabe sobre essa versão atípica da doença?
A versão atípica — identificada no Brasil agora — é considerada de ocorrência “natural e esporádica”, ou seja, ela provavelmente sempre está presente em grandes populações de gado, mas em uma proporção muito baixa e só costuma ser identificada quando são adotados procedimentos de vigilância intensiva. A variante só foi identificada nos anos 2000 quando foram aprimorados os procedimentos de investigação de príons.
No Brasil, os dois casos anunciados neste final de semana são o quarto e quinto casos já registrados no país. Além disso, a versão atípica costuma afetar apenas bovinos mais velhos — exatamente o que aconteceu em Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte, segundo o ministério da Agricultura do Brasil.
O número de casos de EEB atípica é insignificante no mundo, informa a Organização Internacional para Saúde dos Animais. Todo ano, há relato de variantes atípicas registradas em rebanhos de países produtores de gado. A medida mais comum depois da detecção é que o gado é morto e incinerado e testes são realizados para se verificar que não houve nenhuma contaminação na cadeia alimentar.
Embora não haja provas de que a vaca louca atípica seja transmissível, essa hipótese também não foi descartada. Por isso, como medida de precaução, autoridades de saúde fazem de tudo para impedir que essa variante seja introduzida na cadeia alimentar animal.
Por que o Brasil suspendeu a exportação?
O Brasil suspendeu no sábado (04/09) a exportação de carne para a China, atendendo a um protocolo sanitário entre os dois países.
“Os dois casos de EEB atípica — um em cada estabelecimento — foram detectados durante a inspeção ante-mortem. Trata-se de vacas de descarte que apresentavam idade avançada e estavam em decúbito nos currais”, afirma nota do ministério.
O Brasil hoje possui “nível de risco insignificante” para casos de vaca louca. Mas existe a preocupação de que o país possa ser rebaixado para o status de “nível de risco controlado” — o que poderia acarretar em uma suspensão prolongada das exportações do Brasil para a China.
A Irlanda, um fornecedor de menor peso de carne bovina para a China, registrou um caso da doença ‘atípica’ da vaca louca em maio do ano passado e teve seu status rebaixado pela Organização Internacional para Saúde dos Animais. O país ainda não conseguiu retomar as exportações, segundo a agência de notícias Reuters.
A suspensão das exportações para a China se dá por conta do estrito protocolo sanitário em vigor entre os dois países. Uma suspensão de longo prazo prejudicaria economicamente o Brasil e causaria um desequilíbrio nos preços do mercado — dado o tamanho do comércio bilateral Brasil-China.
O Brasil é líder de exportações de carne bovina para a China. O país embarcou mais de 500 mil toneladas de carne bovina para os chineses de janeiro a julho deste ano, ou 38% das importações totais da China. O Brasil está bem à frente do segundo colocado, a Argentina, que forneceu pouco menos de 300 mil toneladas.
Analistas acreditam que se o problema for resolvido em breve, a suspensão desta semana deve provocar poucas oscilações no preço da carne.
O que aconteceu na epidemia de vaca louca dos anos 1980 e 1990?
A epidemia de doença da vaca louca começou no Reino Unido nos anos 1980. Isso levou à proibição do uso de miúdos bovinos para consumo humano em 1989. Muitas pessoas temiam ser contaminadas ao consumir, principalmente, produtos com carne processada.
No ano seguinte, o ministro da agricultura, John Gummer, disse que a carne de vaca era “completamente” segura. Para “provar”, ele convocou a imprensa para uma entrevista coletiva na qual comeu um hambúrguer. No mesmo evento, ele tentou convencer sua filha de 4 anos de idade a comer também — ela não quis. Isso foi antes de a ciência confirmar o risco da doença para humanos.
A epidemia atingiu um pico entre 1992 e 1993, quando foram confirmados quase 100 mil casos. No total, estima-se que 180 mil cabeças de gado tenham sido afetadas. O surto aconteceu porque os animais costumavam ser alimentados com ração feita com restos de carne, miúdos e medula óssea, que muitas vezes estavam contaminados com os príons.
Para tentar conter a doença, mais de 4,4 milhões de animais foram sacrificados. Hoje, cérebro e medula espinhal são descartados e não voltam para a cadeia de alimentação.
Também há um processo de monitoramento mais rigoroso. Depois que a ligação entre a EEB e a vCJD foi descoberta, o Reino Unido introduziu controles mais rígidos para proteger a população. Passou a ser ilegal vender determinados cortes de carne, incluindo a venda de carne com osso – isso foi introduzido em 1997 e removido um ano depois.
Outra medida foi importar plasma para tratar pessoas nascidas após janeiro de 1996 em caso de exposição à doença. Muitos países pararam de importar carne do Reino Unido – a China só acabou com sua restrição em 2018.

Fonte:

g1 > Agronegócios

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