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Com a oferta abaixo do esperado, o preço do leite pago ao produtor voltou a subir em agosto, conforme aponta pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).
Em agosto, a “Média Brasil” fechou a R$ 2,7607 o litro de leite. A marca é 1,4% acima do preço verificado em julho. Na comparação pelos 12 meses, o valor é 17,7% maior que a média registrada em agosto de 2023 em termos reais, quando os valores são deflacionados pelo IPCA do mês.
📝Entenda, abaixo na reportagem, os principais fatores listados pela instituição para explicar o cenário nos últimos dois meses:
⛈️enchentes que assolaram o Sul em maio, região produtora de relevância para o setor
🌡️calor na entressafra em agosto
✈️queda nas importações do leite
🔥queimadas em setembro
🐮oferta menor
🥛estoques nos laticínios abaixo do normal em setembro
“O excesso de chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio fizeram com que a oferta crescesse pouco entre julho e agosto. A entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste se intensificou com o calor a partir de agosto. E as queimadas em setembro fizeram esse cenário se agravar em termos nacionais”, ressalta a pesquisadora do setor para o Cepea, Natália Grigol, em boletim divulgado à imprensa.
Apesar de o preço do leite pago ao produtor acumular avanço real de 32% desde o início de 2024, a média de janeiro a agosto deste ano (de R$ 2,53/litro) é 8,4% inferior à do mesmo período de 2023.
A pesquisadora afirma que a oferta não se recuperou conforme o previsto.
“Os estoques de lácteos nas indústrias não foram repostos como esperado”, disse. “O consumo, por sua vez, tem se mantido firme; e os estoques nos laticínios caíram gradativamente em agosto, até atingirem níveis abaixo do normal em setembro”, observou.
Esse contexto, estima Natália, deve sustentar e intensificar o movimento de alta nas cotações entre setembro e outubro.
🔥Queimadas
Ainda segundo a pesquisadora, os incêndios têm prejudicado a produção de forragens para alimentação animal, o que eleva o custo de produção e limita a oferta, além de comprometer o bem-estar animal.
Outro fator que reforçou a menor disponibilidade de lácteos entre agosto e setembro foi a diminuição das importações. Dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em agosto, houve queda de 25,2% nas importações de lácteos, totalizando 187,8 milhões de litros em equivalente leite.
Agosto
O estudo do Cepea ressalta que o mercado apontava possibilidade de reduções no preço do leite ao produtor neste terceiro trimestre, até o início de agosto.
“Se por um lado, a produção leiteira parecia estimulada pelo aumento da margem do produtor neste ano, por outro a demanda seguia condicionada aos preços baixos nas gôndolas. Fora isso, as importações, ainda em volumes elevados, pressionavam as cotações ao longo de toda a cadeia produtiva. Porém, a produção não cresceu como era esperado pelos agentes do setor”, ressalta Natália Grigol.
Os dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, divulgados em meados de agosto, mostram que a captação de leite cru pelas indústrias de laticínios no âmbito nacional caiu 6,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Comparando com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de apenas 0,8%.
🐄Captação leiteira
De julho para agosto, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou 5% na “Média Brasil”, mas o crescimento em Minas Gerais foi de 2,8% e, em Goiás, de apenas 1,5%.
“Apesar do aumento da margem do produtor nos últimos meses e de certa estabilidade nos custos de produção, o estímulo à atividade foi menor do que o esperado pelos agentes do setor. E o clima extremo não ajudou a atividade”, apontou.
O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea cresceu 4,14% em junho, puxado pela alta média de 7,2% nos estados do Sul e de cerca de 2% nos outros estados da “Média Brasil”.
1º semestre em movimento de queda
O movimento de alta no preço do leite pago ao produtor, no primeiro semestre de 2024, não foi suficiente para o valor médio do produto superar a marca do mesmo período do ano passado. O litro ficou em torno dos R$ 2,46, equivalente a um recuo de 14,3% na comparação com o observado entre janeiro e junho de 2023.
De acordo com o Cepea, a perda no ritmo de valorização em junho deste ano se explica, principalmente, pelo aumento acima do esperado da oferta nacional.
“A dificuldade das indústrias em garantir margem nas vendas dos lácteos ao longo do primeiro semestre é um fator importante que influencia na queda do ritmo de valorização do leite cru”, aponta o Cepea.
Em junho, o preço subiu pelo oitavo mês consecutivo, mas em menor intensidade. “A alta frente a maio limitou-se a 1,3%, em termos reais, de modo que a “Média Brasil” foi de R$ 2,7524/litro – 3,25% maior que a de junho do ano passado”, comenta a analista Natália Grigol.
O preço do leite vinha de movimento de seis quedas consecutivas em 2023, mas iniciou recuperação nos valores pagos ao produtor entre janeiro e março deste ano.
Produção de leite em propriedade no RS
Reprodução/RBS TV
Expectativa não se confirmou
Em julho, ainda que a tendência sazonal sinalizasse a persistência do movimento de alta do leite ao produtor até agosto, o Cepea apontava a possibilidade de que esse comportamento dos preços não se mantivesse nos meses seguintes em 2024.
“A expectativa é de que o terceiro trimestre seja marcado pelo recuo das cotações do leite cru”, conclui a analista”, mencionavam os pesquisadores no setor em boletim anterior. Estimativa que não se confirmou devido aos cenários de altas temperaturas, recuo de importações e reflexos das queimadas.
Ordenha de leite em vaca
Cícero Oliveira/UFRN
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