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Entenda por que preço do leite registra 6ª queda consecutiva; valor pago ao produtor cai 30,4% no ano

Valor do produto chega a R$ 1,96 em outubro. Consumo enfraquecido, aumento das importações e diminuição nos custos de produção explicam desvalorização, iniciada em maio, aponta Cepea/Esalq-USP. Produção de leite no ES
Reprodução/TV Gazeta
O preço médio do leite cru pago ao produtor acumula queda de 30,4% em um ano, conforme pesquisa mais atualizada divulgada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq, o campus da Universidade de São Paulo em Piracicaba (SP). O valor do litro do produto captado por laticínios em outubro deste ano chegou a R$ 1,96, o menor já registrado desde janeiro. Em outubro de 2022, o preço ficou em torno dos R$ 2,56.
Em termos reais, nos dez primeiros meses de 2023, de janeiro a outubro, o preço do leite cru pago ao produtor caiu 24,8%, os valores foram deflacionados pelo IPCA de outubro.
Esse movimento de queda ininterrupto começou em maio deste ano e, conforme aponta o Cepea, também é explicado pelos mesmos motivos neste período.
O recuo do preço captado por lacticínios se explica pela maior disponibilidade interna de lácteos – tanto pelo aumento da produção doméstica quanto pelo crescimento das importações. 👇Leia mais, abaixo, na reportagem.
Na comparação entre setembro e outubro deste ano, a queda real no preço médio do leite ao produtor foi de 4,3%. Esta é a sexta baixa consecutiva registrada em 2023, de acordo com a “Média Brasil” líquida.
Preços líquidos nominais do leite cru captado em outubro/23 nos estados que compõem a “Média Brasil”. Preços líquidos não contêm frete e impostos.
Expectativa
A expectativa dos agentes de mercado é de que o movimento de queda siga perdendo força nos próximos meses. A perspectiva de agentes consultados pelo Cepea é de que o preço do leite captado em novembro fique estável na Média Brasil.
“Algumas bacias leiteiras, contudo, podem até mesmo registrar valorização do leite, devido à menor captação, que, por sua vez, é prejudicada pelo clima adverso e pelo estreitamento da margem do pecuarista, que tende a diminuir os investimentos na atividade neste curto prazo”, explica.
Preço do litro de leite ao produtor tem 5ª queda consecutiva e chega a R$ 2, aponta USP de Piracicaba
Claudia Assencio/g1
Do produtor ás gôndolas do supermercado
Na esteira da queda do preço do leite pago ao produtor, cai também os valores de seus derivados, conforme explica a pesquisadora do setor para o Cepea, Ana Paula Negri.
A especialista explica que os derivados acompanham o mesmo movimento do preço do leite pago ao produtor.
“Quando o valor captado nos lacticínios registra queda, os preços dos derivados também recuam. Um outro motivo que explica essa tendência é que a população não está absorvendo altos preços. Na gôndola do mercado tende a cair também”, observa.
Ainda de acordo com a pesquisadora do Cepea, os derivados como leite em pó e de caixinha registraram queda de 18% no atacado, na comparação entre outubro deste ano e do ano passado.
Preço do litro de leite : 5ª queda consecutiva faz valor chegar a R$ 2
O preço médio do leite cru ao produtor registrou queda de 9,08% de agosto para setembro de 2023 e chegou ao valor de R$ 2 na “Média Brasil” líquida, conforme o Cepea. Essa foi a quinta baixa consecutiva neste ano, sendo também a menor cotação verificada no período.
Entre de setembro de 2022 e setembro de 2023, a baixa se torna ainda mais expressiva. O valor do preço médio do litro leite pago ao produtor ficou 31,54% menor em termos reais, os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro.
Preço do leite ao produtor tem 5ª queda consecutiva
Reprodução/EPTV
Motivos
Os motivos de mais um recuo no valor captado por lacticínios são os mesmos verificados desde a primeira baixa, registrada em maio de 2023, conforme explicam as pesquisadoras do Cepea para o setor, Ana Paula Negri e Natália Grigol. São eles:
aumento da disponibilidade interna de lácteos, devido ao avanço da captação nacional
importações de lácteos ainda elevadas
consumo interno muito sensível ao preço
“Com isso, a pressão dos canais de distribuição nas negociações com os laticínios tem mantido em queda os preços dos derivados lácteos, e esse movimento vem sendo repassado ao produtor”, observam.
Na contramão desse movimento de queda, o primeiro quadrimestre do ano registrou aumentos consecutivos. O preço médio do leite aos produtores acumulou alta real de 11,8% entre janeiro e abril, segundo pesquisas do Cepea da Esalq/USP. Veja mais detalhes no final da reportagem.
Agosto e setembro
Em agosto o recuo foi de 6,8% no comparativo ao mês de julho. O preço por litro pago chegou a R$ 2,25 por litro.
Produção nacional
Em relação à produção nacional, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou alta de 0,36% de agosto para setembro – ressalta-se, contudo, que essa variação evidencia uma desaceleração na captação.
Além do clima adverso no Sul do País, o estreitamento da margem do pecuarista é outro fator que contribui para o crescimento lento da produção.
Atacado paulista
Com maior oferta de lácteos e consumo doméstico muito sensível ao preço, os estoques de derivados nas indústrias e canais de distribuição cresceram em setembro.
“Assim, os preços do UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado negociados entre laticínios e canais de distribuição no estado de São Paulo caíram 6,3%, 2,3% e 4,2% frente a agosto. Esse resultado foi repassado ao produtor em setembro – e a expectativa do setor é de que o cenário de queda ainda se mantenha para o preço do leite cru captado em outubro, ainda que em menor intensidade”, apontam as pesquisadoras.
Entressafra
O preço médio do leite cru ao produtor seguiu em desvalorização, mesmo na entressafra, quando a expectativa é de alta nas cotações. O valor do litro do produto fechou em R$ 2,4142 na “Média Brasil” líquida em julho deste ano, um recuo de 5,69 % na comparação com o mês anterior. A terceira queda consecutiva registrada em 2023.
Em junho deste ano, o preço médio do litro do leite chegou a R$ 2,556 na “Média Brasil” . A marca representou recuo de 22,38% na comparação com mesmo mês no ano passado.
O preço médio do leite cru ao produtor, em junho, também é 6,02% menor em relação ao registrado em maio de 2023. No fim primeiro semestre, a queda acumulada de 1,4% e média é de R$ 2,7505/litro.
Produção de leite no Paraná.
Caminhos do Campo/RPC
Na comparação com julho do ano passado, o recuo no preço foi maior, na casa dos 35%, conforme aponta o Cepea. Esse movimento de desvalorização, segundo explica a analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, é atípico para esta época do ano.
“Historicamente, o que se observa é alta dos preços nesta época, em decorrência da entressafra, uma vez que a produção não é estimulada pelo clima neste período”, analisa.
“Contudo, em 2023, as cotações seguem se comportando de maneira atípica, diante do consumo enfraquecido, do aumento de importações e da queda nos custos de produção. Esses fatores, combinados, têm engendrado o movimento de queda em toda a cadeia produtiva”, observa a pesquisadora.
Entenda o cenário
A analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, explica os fatores que fizeram os preços do leite cru caírem, mesmo em época de entressafra.
🐮Por que o preço médio do leite cru ao produtor tem registrado queda?
Natália Grigol explica que combinação do consumo enfraquecido, do aumento das importações e da diminuição nos custos de produção explica a desvalorização do leite cru, iniciada ainda em maio.
🤔O que ocorre na entressafra?
A produção não é estimulada pelo clima, segundo Natália. O inverno seco limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho. Entretanto, mesmo com nesse cenário de entressafra, os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta.
“A desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda observado ao longo de toda a cadeia produtiva”, comenta Natália.
“Com a demanda ainda fragilizada, a pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos e os valores mais competitivos dos lácteos importados, as cotações dos derivados negociados pelos laticínios registraram queda em junho”, acrescenta.
📈Por que as importações impactam no preço ao produtor?
Natália Grigol ressalta ainda que as importações em alta neste ano geram maior disponibilidade interna de lácteos e pressionam as cotações do setor.
A pesquisadora comenta que os preços dos produtos importados à base de leite estão mais competitivos na comparação com os nacionais e isso incentiva as importações.
A analista do Cepea ressalta que o aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 foi um fator importante porque, além de o volume ter sido quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços seguiam mais competitivos que os nacionais – o que pressionou as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia.
🥛Qual é o cenário atual das importações?
“Em setembro, mesmo diante da retração de 21,8% no volume importado pelo Brasil, as compras externas ainda foram elevadas. De janeiro a setembro de 2023, as importações somam 1,6 bilhão de litros em equivalente leite, quase o dobro (90,4%) do volume registrado no mesmo período do ano passado”, apontam as pesquisadoras.

💲E custo operacional da pecuária leiteira?
Pesquisa do Cepea mostra que, de agosto para setembro, houve alta de 0,56% no Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira na “Média Brasil”.
“Trata-se da segunda alta consecutiva do COE, puxada sobretudo pela valorização dos insumos produtivos, como adubos, corretivos e diesel. Além disso, é preciso lembrar que, desde julho, a retração da receita do produtor (preço do leite) supera a desvalorização do milho, diminuindo o poder de compra do produtor frente ao insumo”, aponta.
“Em setembro, foram precisos 26,6 litros de leite para a compra de uma saca de milho – 12,3% a mais que em agosto. Esse cenário desperta preocupações ao setor, tendo em vista que a progressiva perda na margem do produtor pode diminuir os investimentos na atividade neste curto prazo”, observam Ana Paula e Natália.

Fazenda Agrindus, de Descalvado (SP), iniciou produção de leite com vacas A2 em 2017.
Fabiana Assis/G1
De janeiro a abril: cenário de alta no preços
Entre janeiro e abril de 2023, o preço do leite aos produtores acumulou alta real de 11,8%, segundo pesquisas do Cepea da Esalq/USP.
Natália Grigol explica que a valorização do leite cru em abril se manteve atrelada à queda da oferta do alimento no campo, que sofreu impacto negativo pelo avanço da entressafra do produto -período intermediário entre uma safra e a seguinte – na maior parte do Brasil.
“Por isso, a disputa entre laticínios por produtores esteve intensa em abril, contexto que manteve as cotações do leite em alta”, afirmou na ocasião.
Os estudos do Cepea da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) apontam que o preço do leite cru captado por laticínios em abril, e pago em maio deste ano, chegou a R$ 2.8961 por litro na “Média Brasil” líquida, uma elevação de 2,4% na comparação com o mês anterior.
Em relação a março, a alta foi de 9,3%, em termos reais – os valores foram deflacionados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, de acordo com boletim do Cepea. Os preços líquidos não contêm frete e impostos.
A tabela, abaixo, mostra os preços líquidos do leite cru, captados em abril e pagos em maio deste ano, entre os estados que integram a Média Brasil.
Preços líquidos nominais do leite cru captado em abril/23 nos estados da ‘Média Brasil’
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Fonte:

g1 > Agronegócios

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