No calçadão entre as praias do Arpoador e do Diabo, espaço tem equipamentos rústicos, geridos por usuários; ‘filial’ no Aterro do Flamengo é com vista para o Pão de Açúcar. ‘Academia dos Flintstones’ ganhou apelidos que brincam com redes do país. Academia rústica com vista para o mar atrai frequentadores há mais de 40 anos
Na orla onde o metro quadrado é um dos mais caros do país, cariocas e turistas malham de graça, ao ar livre e ouvindo o barulho do mar.
Com halteres e equipamentos feitos de concreto e sucata, a Arpex Academia🏋🏾 – mais conhecida como “Academia dos Flintstones”💪 – funciona 24 horas por dia, tem mensalidade de R$ 0 e uma das mais lindas vistas do Rio de Janeiro: à beira-mar, no calçadão entre as praias do Arpoador e do Diabo 🌊, na Zona Sul.
O apelido inicial, em homenagem ao desenho animado que se passa na Idade da Pedra, recentemente ganhou derivações bem-humoradas, que brincam com o nome de grandes redes de academia do país.
“A galera brinca, né? É a Academia dos Flintstones, é a BodyTreco [em referência à Body Tech], SmartFlintstones [piada com Smart Fit]. Chamem como quiser, vem e aproveita”, brinca o ex-lutador de Muay Thai e colaborador da academia Bernardo Braga.
Academias gratuitas a céu aberto em cartões postais do Rio
Sem espelhos, foco na natureza
O figurino também é rústico: a maioria malha com roupa de praia. Homens costumam ficar sem camisa, alguns fazem os exercícios só de sunga🩲.
E os usuários de redes sociais que gostam de postar seus treinos têm que se virar: não há espelho🪞para tirar fotos e publicar o famoso “tá pago”.
“O seu ego fica um pouquinho esquecido, e você foca no barulho do mar. É para olhar para o céu: tem sol, lua, estrela e seja feliz”, diz Braga.
Manoel Freitas, aos 83 anos, puxa peso em aparelho na Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Como surgiu?
A Arpex Academia funciona como uma espécie de coletivo colaborativo – cada usuário ajuda com um serviço ou doação. A proposta inicial segue intacta: democratizar o acesso ao esporte e à saúde.
“A academia surgiu de uma parceria na década de 1980 entre uma marca e a prefeitura. A União, já que o terreno era da Marinha, cedeu o terreno para a prefeitura. Em parceria com uma marca, eles colocaram alguns aparelhos aqui: barras paralelas, nada muito sofisticado, tudo bem rústico”, conta Braga.
Foi nos anos 1990 que a academia começou a ganhar ares de colaborativa. Hoje, não há qualquer relação com o poder público.
“O Abílio [Bergamini, profissional de educação física e idealizador do projeto] foi o primeiro ‘cara’ a fazer uma intervenção aqui pela comunidade no ano de 1992, revitalizando o lugar. Refazendo e reformando os aparelhos que já existiam e entrando com aparelhos novos. Ele também fez uma horta no terreno aqui em cima. A intenção dele era democratizar o acesso ao esporte e a saúde”, completou Braga.
Bernardo Braga é colaborador da Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Não há restrição de idade e o exercício pode ser feito no horário mais conveniente para o frequentador. Manoel Freitas, por exemplo, tem 83 anos e frequenta a Arpex Academia há mais de duas décadas.
“Eu sou cria daqui (…) Tem que malhar, não ficar sedentário, ficar vendo televisão em casa. Tem que vir aqui para malhar, pegar sol, fazer exercício. Daí você dura mais, ganha longevidade.”
A estudante de medicina Gabriela Nogueira, de 20 anos, é uma das novas adeptas. Segundo ela, há pessoas de fora do estado que chegam ao Rio de Janeiro com curiosidade de conhecer o lugar.
“Desde a pandemia, comecei a frequentar esses espaços em busca de locais abertos. Eu ia dar uma corrida e parava no Arpoador para fazer uns exercícios. Ela veio em soma com as academias tradicionais que eu já frequentava. Eu frequento as duas academias, mas sou suspeita para falar porque eu gosto muito mais dessa daqui. Eu acho que malhar com esse visual, na Cidade Maravilhosa, não tem preço – literalmente.”
Alguém treina ‘fofo’?
Alessandro Cardoso é frequentador assíduo da Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Os aparelhos são simples e não há variação grande de “máquinas”, mas tem o suficiente para exercitar todos os grupamentos musculares.
Engana-se quem pensa que os frequentadores treinam “fofo” – adjetivo usado para definir quem não se empenha na musculação.
“Eu acho que o limite é nosso, né? A gente que determina o quanto a gente pode e o que a gente é capaz de fazer. A gente malha pesado, não tem isso de fofo não. Você tira isso pelo tio de 83 anos, ele faz mais bonito que vários novinhos por aí. (…) Eu não sei se está certo, mas faço supino com 85 kg, dá para fazer tranquilo”, disse o zelador Alessandro Cardoso, de 43 anos, que vai malhar em seu intervalo para o almoço.
Localização das ‘filiais’ da Academia dos Flintstones no Rio
Kayan Albertin/g1
Aulões
O espaço não conta com instrutores fixos para auxiliar os alunos e, por este motivo, os colaboradores da Arpex Academia promovem “aulões” gratuitos para passar instruções.
A próxima edição será realizada no próximo dia 12 de agosto. Segundo os frequentadores, todos são bem-vindos.
“A única obrigação aqui é preservar o nosso trabalho. Não atrapalhe. Não batam os pesos, eles são de concreto, eles quebram. Quem quiser ajudar, sempre vai ser bem-vindo. Tem que respeitar o coletivo. Você tem que fazer o que é melhor para o coletivo. Todos são bem-vindos, ‘everybody welcome’. Venha, treine e seja feliz”, diz Bernardo Braga.
‘Filial’ no Aterro do Flamengo
O aposentado Raimundo José Gomes mantem a forma na academia a céu aberto do Aterro
Gustavo Wanderley/g1
O Aterro do Flamengo, também na Zona Sul, recebe um espaço nos mesmos moldes da Academia dos Flintstone do Arpoador. O local funciona há décadas em um endereço privilegiado: entre o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar.
O aposentado Raimundo José Gomes Pinto, de 72 anos, é uma das personalidades conhecidas no espaço. Ele frequenta a academia “faça chuva ou faça sol”, segundo o próprio.
“Eu saio de manhã de casa, moro aqui perto. Venho correndo até aqui, faço um exerciciozinho e volto correndo para casa. Tranquilidade pura. Pego essa vitamina D, que é maravilhosa para a gente e mantenho o corpo. Faça chuva ou sol, eu venho”, contou ao g1.
“Para mim, é muito importante manter minha atividade e o corpo em movimento. Acham que estou com a idade mais elevada e não posso fazer nada, mas posso sim. Todo mundo pode fazer alguma coisa. Caminhar, fazer exercício, andar de bicicleta. Não deu para correr? Faz caminha”, aconselha.
Pesos feitos com concreto fazem parte da academia gratúita do Aterro do Flamengo
Gustavo Wanderley/g1
Orientação profissional e outros cuidados
O professor de Educação Física Matheus Araújo afirma que treinamentos de força são a “chave do sucesso” para manter uma vida saudável e longeva, mas orienta que é preciso ter alguns cuidados.
“A minha recomendação é ter o acompanhamento de um profissional capacitado. O ideal é que seja um acompanhamento presencial. Mas, existe a possibilidade de uma consultoria onde há uma prescrição de treino. Além disso, é importante o uso de roupas leves e hidratação durante atividade. Bebam água”, afirma Matheus Araújo.
O professor cita os riscos de se fazer a atividade física sem acompanhamento.
“O primeiro é que a pessoa pode se machucar fazendo o exercício com uma postura inadequada. Ela pode sobrecarregar as articulações, causando prejuízo para coluna e ombro, principalmente. O segundo é em relação à intensidade do exercício. Por mais que ela tenha uma boa postura, ela pode exagerar na intensidade do exercício e gerar uma inflamação, como uma tendinite, por exemplo”, explica.
Na orla onde o metro quadrado é um dos mais caros do país, cariocas e turistas malham de graça, ao ar livre e ouvindo o barulho do mar.
Com halteres e equipamentos feitos de concreto e sucata, a Arpex Academia🏋🏾 – mais conhecida como “Academia dos Flintstones”💪 – funciona 24 horas por dia, tem mensalidade de R$ 0 e uma das mais lindas vistas do Rio de Janeiro: à beira-mar, no calçadão entre as praias do Arpoador e do Diabo 🌊, na Zona Sul.
O apelido inicial, em homenagem ao desenho animado que se passa na Idade da Pedra, recentemente ganhou derivações bem-humoradas, que brincam com o nome de grandes redes de academia do país.
“A galera brinca, né? É a Academia dos Flintstones, é a BodyTreco [em referência à Body Tech], SmartFlintstones [piada com Smart Fit]. Chamem como quiser, vem e aproveita”, brinca o ex-lutador de Muay Thai e colaborador da academia Bernardo Braga.
Academias gratuitas a céu aberto em cartões postais do Rio
Sem espelhos, foco na natureza
O figurino também é rústico: a maioria malha com roupa de praia. Homens costumam ficar sem camisa, alguns fazem os exercícios só de sunga🩲.
E os usuários de redes sociais que gostam de postar seus treinos têm que se virar: não há espelho🪞para tirar fotos e publicar o famoso “tá pago”.
“O seu ego fica um pouquinho esquecido, e você foca no barulho do mar. É para olhar para o céu: tem sol, lua, estrela e seja feliz”, diz Braga.
Manoel Freitas, aos 83 anos, puxa peso em aparelho na Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Como surgiu?
A Arpex Academia funciona como uma espécie de coletivo colaborativo – cada usuário ajuda com um serviço ou doação. A proposta inicial segue intacta: democratizar o acesso ao esporte e à saúde.
“A academia surgiu de uma parceria na década de 1980 entre uma marca e a prefeitura. A União, já que o terreno era da Marinha, cedeu o terreno para a prefeitura. Em parceria com uma marca, eles colocaram alguns aparelhos aqui: barras paralelas, nada muito sofisticado, tudo bem rústico”, conta Braga.
Foi nos anos 1990 que a academia começou a ganhar ares de colaborativa. Hoje, não há qualquer relação com o poder público.
“O Abílio [Bergamini, profissional de educação física e idealizador do projeto] foi o primeiro ‘cara’ a fazer uma intervenção aqui pela comunidade no ano de 1992, revitalizando o lugar. Refazendo e reformando os aparelhos que já existiam e entrando com aparelhos novos. Ele também fez uma horta no terreno aqui em cima. A intenção dele era democratizar o acesso ao esporte e a saúde”, completou Braga.
Bernardo Braga é colaborador da Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Não há restrição de idade e o exercício pode ser feito no horário mais conveniente para o frequentador. Manoel Freitas, por exemplo, tem 83 anos e frequenta a Arpex Academia há mais de duas décadas.
“Eu sou cria daqui (…) Tem que malhar, não ficar sedentário, ficar vendo televisão em casa. Tem que vir aqui para malhar, pegar sol, fazer exercício. Daí você dura mais, ganha longevidade.”
A estudante de medicina Gabriela Nogueira, de 20 anos, é uma das novas adeptas. Segundo ela, há pessoas de fora do estado que chegam ao Rio de Janeiro com curiosidade de conhecer o lugar.
“Desde a pandemia, comecei a frequentar esses espaços em busca de locais abertos. Eu ia dar uma corrida e parava no Arpoador para fazer uns exercícios. Ela veio em soma com as academias tradicionais que eu já frequentava. Eu frequento as duas academias, mas sou suspeita para falar porque eu gosto muito mais dessa daqui. Eu acho que malhar com esse visual, na Cidade Maravilhosa, não tem preço – literalmente.”
Alguém treina ‘fofo’?
Alessandro Cardoso é frequentador assíduo da Arpex Academia
Gustavo Wanderley/g1
Os aparelhos são simples e não há variação grande de “máquinas”, mas tem o suficiente para exercitar todos os grupamentos musculares.
Engana-se quem pensa que os frequentadores treinam “fofo” – adjetivo usado para definir quem não se empenha na musculação.
“Eu acho que o limite é nosso, né? A gente que determina o quanto a gente pode e o que a gente é capaz de fazer. A gente malha pesado, não tem isso de fofo não. Você tira isso pelo tio de 83 anos, ele faz mais bonito que vários novinhos por aí. (…) Eu não sei se está certo, mas faço supino com 85 kg, dá para fazer tranquilo”, disse o zelador Alessandro Cardoso, de 43 anos, que vai malhar em seu intervalo para o almoço.
Localização das ‘filiais’ da Academia dos Flintstones no Rio
Kayan Albertin/g1
Aulões
O espaço não conta com instrutores fixos para auxiliar os alunos e, por este motivo, os colaboradores da Arpex Academia promovem “aulões” gratuitos para passar instruções.
A próxima edição será realizada no próximo dia 12 de agosto. Segundo os frequentadores, todos são bem-vindos.
“A única obrigação aqui é preservar o nosso trabalho. Não atrapalhe. Não batam os pesos, eles são de concreto, eles quebram. Quem quiser ajudar, sempre vai ser bem-vindo. Tem que respeitar o coletivo. Você tem que fazer o que é melhor para o coletivo. Todos são bem-vindos, ‘everybody welcome’. Venha, treine e seja feliz”, diz Bernardo Braga.
‘Filial’ no Aterro do Flamengo
O aposentado Raimundo José Gomes mantem a forma na academia a céu aberto do Aterro
Gustavo Wanderley/g1
O Aterro do Flamengo, também na Zona Sul, recebe um espaço nos mesmos moldes da Academia dos Flintstone do Arpoador. O local funciona há décadas em um endereço privilegiado: entre o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar.
O aposentado Raimundo José Gomes Pinto, de 72 anos, é uma das personalidades conhecidas no espaço. Ele frequenta a academia “faça chuva ou faça sol”, segundo o próprio.
“Eu saio de manhã de casa, moro aqui perto. Venho correndo até aqui, faço um exerciciozinho e volto correndo para casa. Tranquilidade pura. Pego essa vitamina D, que é maravilhosa para a gente e mantenho o corpo. Faça chuva ou sol, eu venho”, contou ao g1.
“Para mim, é muito importante manter minha atividade e o corpo em movimento. Acham que estou com a idade mais elevada e não posso fazer nada, mas posso sim. Todo mundo pode fazer alguma coisa. Caminhar, fazer exercício, andar de bicicleta. Não deu para correr? Faz caminha”, aconselha.
Pesos feitos com concreto fazem parte da academia gratúita do Aterro do Flamengo
Gustavo Wanderley/g1
Orientação profissional e outros cuidados
O professor de Educação Física Matheus Araújo afirma que treinamentos de força são a “chave do sucesso” para manter uma vida saudável e longeva, mas orienta que é preciso ter alguns cuidados.
“A minha recomendação é ter o acompanhamento de um profissional capacitado. O ideal é que seja um acompanhamento presencial. Mas, existe a possibilidade de uma consultoria onde há uma prescrição de treino. Além disso, é importante o uso de roupas leves e hidratação durante atividade. Bebam água”, afirma Matheus Araújo.
O professor cita os riscos de se fazer a atividade física sem acompanhamento.
“O primeiro é que a pessoa pode se machucar fazendo o exercício com uma postura inadequada. Ela pode sobrecarregar as articulações, causando prejuízo para coluna e ombro, principalmente. O segundo é em relação à intensidade do exercício. Por mais que ela tenha uma boa postura, ela pode exagerar na intensidade do exercício e gerar uma inflamação, como uma tendinite, por exemplo”, explica.
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