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Como o limão ajudou a salvar a safra de laranja de um vírus chamado ‘tristeza’

Até ‘vacina’ o Brasil desenvolveu para evitar contaminação entre as laranjeiras, que contraem uma doença a cada 10 anos, em média. Laranjas recém-colhidas carregam um caminhão em meio a um pomar de laranjeiras em fazenda de Aguaí (SP)
Fábio Tito/g1
Nem só de doçura vive uma laranja. Sua árvore passa por muito perrengue para sobreviver e, para isso, conta com a ajuda de outros membros da sua família dos Citros, como o limão, e já precisou se “vacinar” para conter a disseminação de um vírus.
A fruta também é facilmente atacada por fungos e bactérias e a cada 10 anos, em média, contrai uma doença diferente no Brasil por ser plantada em grandes áreas e não ser nativa – a fruta é originária da Ásia.
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Já foram muitas as pragas que a laranja enfrentou e com nomes nada agradáveis: gomose, cancro, morte-súbita, rubelose, leprose e até uma que a aproxima de sentimentos humanos, como a tristeza dos citros, um vírus que entrou Brasil por meio de mudas trazidas do Japão e que é transmitido por um pulgão preto.
“A doença da tristeza foi constatada no Brasil em 1937 e matou 90% das plantas, o que correspondia, na época, a cerca de 9 milhões de árvores”, conta Eduardo Girardi, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Folhas das laranjeiras contaminadas com tristeza murcham
Marcos Machado/IAC
A doença foi apelidada de tristeza porque deixava as plantas, de fato, com um aspecto triste, murcho, sem vida. “E também porque foi uma tristeza para os citricultores, que ficaram muito impactados. Era ainda época da 2ª Guerra Mundial, então foi um período muito difícil”, diz Girardi.
No período, os plantios de laranja estavam no Vale do Paraíba e no interior de São Paulo, com muitas lavouras entre Limeira a Campinas – dois municípios que até hoje compõem o Cinturão Citrícola paulista e mineiro.
Limão-cravo contra a tristeza
Pé de limão-cravo.
Eulâmpio Vianna Neto / TG
Quem salvou a laranja da tristeza foi o limão, mais especificamente o limão-cravo, conhecido também como limão-caipira, china, rosa, capeta, a depender da região do país.
Durante a década de 1940, descobriu-se que este tipo de limão era resistente ao vírus da tristeza e, por isso, plantas de laranja passaram a ser enxertadas nele, relembra o diretor Instituto Agronômico de São Paulo (IAC), Marcos Antônio Machado.
A enxertia nada mais é do que unir duas partes adultas de plantas diferentes para a formação de uma árvore só, como na imagem a seguir.
Funcionário da Citro Setin demonstra processo de enxertia para produção de muda de laranjeira
Fábio Tito/g1
A descoberta ocorreu graças a experimentações do pesquisador Silvio Moreira do IAC, por meio de um convênio entre o instituto e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), comandado por Álvaro Santos Costa, um dos pais da virologia de plantas da América Latina.
“A devastação da tristeza no Brasil – e na África do Sul – chamou a atenção dos americanos, que passaram a colaborar na busca de soluções. Assim, nos enviaram uma coleção de citros para serem avaliadas em condições de campo”, lembra Machado.
Até então, a ciência só sabia que a doença era transmitida por um pulgão. O entendimento de que a tristeza era causada por um vírus só veio à tona no início dos anos 1960, por meio de descobertas do pesquisador Elliot Kitajima, que ainda hoje realiza estudos sobre o tema.
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Vacina contra a tristeza
Ainda pelos idos de 1960, uma “vacina” também foi desenvolvida para conter a disseminação do vírus entre os laranjais, procedimento que é conhecido, na verdade, como pré-imunização.
A “vacina” nada mais é do que enxertar uma planta contaminada com uma cepa fraca do vírus da tristeza em uma outra planta saudável. “É a chama inoculação”, detalha Gerd Walter Müller, pesquisador que desenvolveu o procedimento.
“Atualmente, deve existir cerca de 100 milhões de plantas pré-imunizadas contra o vírus da tristeza, que saíram desse meu material”, relembra Müller.
Atualmente, o vírus já está totalmente radicado entre os laranjais, que, por outro lado, continuam enfrentando outras doenças de tempos em tempos. A mais atual é conhecida como greening, para a qual ainda não existe cura.
O greening é provocado por uma bactéria transmitida pelo inseto Psilídeo diaphorina citri que entope as veias das plantas, impedindo a passagem de nutrientes. Com isso, os frutos não amadurecem e caem antes do tempo.
Uma das formas de controlar a doença é o plantio por meio de mudas de sadias (saiba mais aqui).
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Fonte:

g1 > Agronegócios

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