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Como Miami Beach foi construída em terreno pantanoso e instável


O passado de Miami Beach, um dos destinos turísticos mais famosos do mundo, enfrenta grandes desafios para o futuro. Miami Beach tem o Oceano Atlântico de um lado e Biscayne Bay e a cidade de Miami do outro
Miami Beach via BBC
O esplendor de Miami Beach, com suas areias brancas e hotéis luxuosos, torna difícil imaginar que o local já foi um terreno pantanoso e inóspito. O que no início do século 20 era apenas uma ilha de mangue, hoje é um símbolo de luxo e libertinagem.
Nos últimos dias, porém, Miami Beach voltou às manchetes porque, na cidade de Surfside, localizada na mesma ilha, parte do prédio residencial Champlain Towers South desabou.
O edifício ficava na avenida Collins, número 8777, e o colapso deixou ao menos 12 mortos e 149 desaparecidos.
Ainda não se sabe o que causou o desabamento, mas muitas questões foram levantadas sobre o terreno em que vários edifícios na área foram construídos.
Especialistas concordam que é muito cedo para tirar conclusões sobre o desabamento. Mas dizem que a tragédia pode servir como um alerta sobre as vulnerabilidades de uma das áreas turísticas e residenciais mais festejadas do planeta.
Miami Beach virou um dos balneários mais famosos dos Estados Unidos
Getty Images via BBC
Ilha-barreira
Miami Beach é uma cidade de 90 mil habitantes, que faz parte do condado de Miami-Dade, no sul do Estado da Flórida, nos Estados Unidos.
Ela é uma ilha que tem o Oceano Atlântico a leste e a baía de Biscayne a oeste, o que a separa da cidade de Miami.
Miami Beach foi construída no que é conhecido como uma ilha-barreira, um pedaço de terra natural que corre paralelo à costa.
Esse tipo de ilha se formou quando as ondas repetidamente depositaram sedimentos em uma área próxima à costa.
As ilhas-barreira, tipo de terreno onde ficam Miami Beach e Surfside, são terras frágeis, compostas por solos arenosos e erodíveis, sujeitas ao impacto das ondas do mar
BBC
As ilhas-barreira são terras frágeis, compostas por solos arenosos e erodíveis, sujeitas ao impacto das ondas do mar.
Conforme o vento e as ondas mudam seguindo os padrões climáticos e características geográficas locais, essas ilhas constantemente se movem, sofrem erosão, crescem e encolhem de tamanho, segundo o Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
Embora não se saiba com certeza, estima-se que as ilhas-barreira se formaram há cerca de 18 mil anos, no final da última Idade do Gelo.
Hoje, elas têm uma função importante para os humanos e para toda a natureza.
Miami Beach é um símbolo do luxo e do prazer à beira-mar
Getty Images via BBC
Por um lado, protegem as costas do forte impacto das tempestades e também abrigam uma grande variedade de flora e fauna.
Ganhando terreno
Até 1912, o que hoje é Miami Beach era uma ilha-barreira dominada por manguezais.
Nessa altura, vários empresários e investidores como John S. Collins, Carl Fisher, e John e James Lummus viram na ilha o potencial de construir uma cidade dedicada ao prazer e ao luxo à beira-mar.
Com o desenvolvimento urbano e uma ponte que a ligava a Miami, Miami Beach, oficialmente fundada em 1915, passou a receber visitantes de todos os cantos dos Estados Unidos, e hoje é um destino procurado por turistas do mundo todo.
A cidade de Miami Beach foi construída em um terreno instável
Getty Images via BBC
Com a dragagem, os construtores acrescentaram mais terras à ilha, que hoje tem uma área de 19 quilômetros quadrados.
A parte oriental da cidade, que é mais alta, foi construída principalmente sobre calcário, preenchimento orgânico e areia.
A parte ocidental é elevada principalmente em áreas úmidas que foram preenchidas, o que causou a destruição do mangue.
“Eles criaram terras a partir de algo inabitável ou que nem existia, e construíram sobre ela”, explica o geólogo Randall Parkinson, pesquisador de áreas costeiras da Universidade Internacional da Flórida (FIU).
Parkinson, no entanto, adverte que o terreno de Miami Beach pode variar muito em toda a ilha.
“Algumas áreas de Miami Beach são dunas de areia e cumes de praia; outras áreas são uma mistura de areia e matéria orgânica de manguezais; e outras áreas são apenas matéria orgânica. Dependendo da área, pode haver ou não calcário”, disse Parkinson à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Terreno variável
A zona oeste da cidade não está em cima de rochas muito fortes, razão pela qual há cada vez mais afundamentos e inundações nessa parte da ilha, como explicou o geólogo Shimon Wdowinski, especialista da FIU em geodésia espacial, riscos naturais e aumento do nível do mar.
Enquanto isso, na área leste de Surfside, onde estava o prédio que desabou, há um calcário muito poroso com uma elevação baixa, diz Wdowinski.
Em qualquer caso, Parkinson insiste que o terreno pode variar muito.
“O que está embaixo de um prédio pode não estar embaixo de outro”, diz ele.
“Dito isso, dois prédios próximos um do outro têm maior probabilidade de ter um solo e sedimentos semelhantes abaixo deles do que dois prédios separados por um quilômetro.”
A construção de edifícios e estradas em uma ilha-barreira pode afetar sua dinâmica natural, explica Anna Linhoss, professora de engenharia biológica da Universidade Estadual do Mississippi, em um artigo publicado no site The Conversation.
Ela cita, por exemplo, que a construção de pilares e cais pode interromper o fluxo de areia na ilha, bloqueando o fluxo de sedimentos em algumas áreas, que ficam expostas à erosão.
Desafios da ilha
O terreno, a localização geográfica, as mudanças climáticas e a urbanização de Miami Beach se tornaram grandes desafios para a ilha.
Parkinson menciona que entre os motivos que foram discutidos para explicar a queda do prédio estão a elevação do nível do mar, intrusão salina e afundamento.
A intrusão salina refere-se à água do mar que é introduzida sob os terrenos construídos, podendo gerar, por exemplo, inundações na parte inferior das áreas construídas.
A subsidência, por sua vez, refere-se a um rebaixamento do solo.
Em 2020, Wdowinski publicou um estudo que detectou um afundamento de até 2 milímetros (mm) por ano na área onde as Torres Champlain Sul estão localizadas.
No entanto, o especialista esclarece que só isso não explica o desabamento do prédio.
Já o ponto de Parkinson é que, embora possam não ser as causas exatas, a mudança climática leva ao aumento do nível do mar e à intrusão salina; e o desenvolvimento urbano pode gerar subsidência.
A ilha também pode ser seriamente afetada pelo aumento do nível do mar, pois o fenômeno pode gerar mais furacões de alta categoria.
“Miami Beach enfrenta os mesmos desafios que qualquer outra ilha-barreira do mundo”, disse Harold Wanless, professor do Departamento de Geografia e Desenvolvimento Sustentável da FIU.
“Há uma boa chance de que nos próximos 20 ou 30 anos tenhamos um aumento do nível do mar entre 60 e 90 centímetros devido à aceleração do degelo dos polos”, diz.
De acordo com Wanless, isso significaria que os residentes do sul da Flórida perderiam o acesso à água potável, as estações de tratamento parariam de funcionar e grandes áreas permaneceriam constantemente inundadas.
Miami Beach, por exemplo, pode ficar em grande parte abandonada.
“Morar na ilha será inviável ao longo deste século”, diz o especialista. “Esta é uma enorme preocupação.”
Parkinson concorda, acrescentando que este será um problema “cada vez pior e pior”.
Sinal de alerta
Milhões de dólares foram investidos em Miami Beach para enfrentar esses desafios.
Sistemas de bombeamento, drenagem e estradas elevadas foram construídos.
Especialistas, porém, alertam que ainda assim o desafio é enorme.
“Nós fingimos que é apenas um pouco (o aumento do nível do mar) e que podemos pará-lo, mas não podemos pará-lo porque estamos aquecendo os oceanos”, diz Walness.
“O que aconteceu nas Torres Champlain pode não ter a ver com a elevação do nível do mar, mas mostra a necessidade de começar a falar sobre isso, porque é algo que estamos enfrentando”, diz Walness.
“Há muito tempo que agimos como se não houvesse problema, com a atitude de construir sem nos preocupar”.
“Não devemos apenas olhar como construiremos no futuro, mas também os edifícios mais antigos que serão afetados pela elevação do nível do mar.”
E sobre o futuro de Miami Beach, Walness tem uma conclusão clara: “o melhor é que você venha e aproveite a cidade enquanto ela ainda existe”.

Fonte:

G1 > Turismo e Viagem

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