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De onde vem o que eu como: pequenos agricultores dominam a produção de temperos no Brasil


Setor de condimentos sofre com escassez de dados oficiais. Entre os mais populares do país, cebola, pimenta e alho também têm ação anti-inflamatória. O alho, a cebola, a pimenta e o cheiro verde são as ervas e especiarias de maior fôlego no Brasil.
Tiard Schulz/Unsplash
Saia
Sabia que além de temperar, o alho também vai reforçar sua vitamina C e ter ação anti-inflamatória? Ele possui propriedades medicinais, assim como outros condimentos, que também podem ser usados no shampoo e na maquiagem.
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Dominado pelos pequenos produtores, o setor de temperos é promissor, com um aumento de mais de 14% do valor em exportações na comparação com 2019 e 2020, segundo dados do Ministério da Agricultura que somam chá, mate e especiarias.
Mas, ainda assim, ele sobre sofre com a escassez de dados sobre a sua produção e consumo.
Isso acontece exatamente por ter um cultivo de pequenos agricultores em sua maioria, dificultando o monitoramento, bem como por ser uma cadeia muito informal, que acaba não movimentando tanto dinheiro quanto outros cultivos, como a batata ou o tomate, explica Lenita Haber, analista de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
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Uso de temperos é versátil no Brasil.
Arte / G1
Não é só comida
Os temperos proporcionam benefícios à saúde por terem compostos funcionais, antioxidantes, substâncias anti-inflamatórias, bactericidas, entre outros, explica Guilherme Reis Ranieri, especialista em plantas alimentícias não convencionais, colaborador no projeto Hortaliças Tradicionais e Técnica Dietética e doutorando em patologia pela Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo (FMUSP).
Alguns exemplos disso são:
o orégano, que auxilia na digestão e na dor de cabeça;
a erva doce, que alivia a cólica;
Pimenta, que pode ajudar a ativar a digestão e é um anti-inflamatório;
Cebola e alho, que também têm componentes anti-inflamatórios.
De acordo com Ranieri, o uso dos condimentos com fins médicos ou não é uma questão regional. É o caso do manjericão, que, segundo o especialista, no Nordeste é mais usado como erva medicinal, enquanto no Sudeste é apenas um ingrediente culinário.
Ainda assim, ele afirma que todo tempero pode ser um medicamento. Contudo, para usá-los com este objetivo, o ideal é consultar um médico, que orientará em relação à quantidade da erva ou especiaria a ser colocada em uma infusão e a regularidade do consumo.
No Brasil, profissionais da saúde, inclusive do Sistema Único de Saúde (SUS), são capacitados para este tipo de orientação, conta o especialista.
Apesar das vantagens, muita gente pode optar pelos famosos temperos ultraprocessados, como aqueles que vem em cubos, por exemplo. Mas estes possuem uma alta quantidade de sal e gordura, além de compostos químicos para intensificar o sabor. Ranieri diz que isto não é bom porque vicia o paladar:
“O problema é que as pessoas estão acostumadas a sentir o sabor muito intenso. A gente tem que se acostumar a sentir o sabor das coisas como ele é, sem ter esse monte de tempero para realçar. Assim, quando as pessoas usam o tempero natural, elas nunca acham que tem tempero o suficiente”.
As vantagens dos condimentos não param na sua ingestão, eles também são usados na indústria dos cosméticos. É o caso do alecrim, ingrediente de produtos voltados aos cabelos, pois proporciona vigor e brilho.
A popularidade das ervas e especiarias na indústria da beleza acontece por dois motivos, segundo o gestor ambiental: eles permitem uma produção em larga escala e são produtos que estamos acostumados a consumir, portanto diminuem os riscos de efeitos colaterais.
Os temperos também podem ser usados para dar aroma ou sabor aos cosméticos.
Veja como é o cultivo no Brasil da cebola, alho e pimenta:
Tamanho é documento
O brasileiro come 6 kg de cebola por ano, segundo Lenita Haber, analista da Embrapa.
Quele Ribeiro Pereira
A cebola é um dos temperos mais presentes na vida do brasileiro, com um consumo per capta anual de 6 kg, de acordo com Lenita Haber, analista da Embrapa.
Mas, não é qualquer cebola que agrada o brasileiro. Para ter boa comercialização, ela precisa ser do tamanho “caixa 3”, que é o maior, conta Rafael Corsino, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cebola (Anace).
Por causa disso, o grande desafio dos produtores hoje é o controle das doenças que impedem que a cebola alcance o tamanho esperado.
As enfermidades mais comuns são causadas pelos fungos de solo e os vermes nematoides, que afetam as raízes, e as bacterioses, que aparecem em ambientes quentes e úmidos dificultando o desenvolvimento das folhas.
Mãos na terra
Corsino conta que o segredo para ter uma boa produção de cebola é manter um solo com saúde física, química e biológica, impedindo a falta de cascalho, excesso de cálcio, entre outros elementos, obtendo um ambiente equilibrado.
Dá para fazer isso com o controle do solo a partir de produtos biológicos, que proporcionam uma maior segurança alimentar, e estão substituindo os defensivos químicos, afirma o presidente da Anace.
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Outras inovações do setor, incluem a agricultura de precisão, na qual é feito o levantamento do solo e apenas os locais necessários são adubados. Isso tem ajudado os produtores a economizarem.
Futuro
Apesar dos avanços, existem pontos a serem melhorados. Corsino explica que os pequenos agricultores precisam se especializar.
Eles são responsáveis por 69% da cadeia produtora. Dos restantes, 23% são médios produtores e apenas 8% grandes, conta a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA-Esalq/USP), Marina Marangon.
Para ela, o setor tem espaço para evoluir em produtividade, mas “falta também uma melhor coordenação entre os elos da cadeia, do agricultor até o consumidor final”.
Reforço internacional
Em 2020, o brasileiro consumiu 36 milhões de caixas de 10 kg de alho, segundo Anapa.
Divulgação
A produção de alho no Brasil está em crescimento, mas ainda não é autossuficiente.
Em 2020, o brasileiro consumiu 36 milhões de caixas de 10 kg de alho, dos quais 54% foram importados. Para 2021, espera-se que este número caiam para 50% do consumo no país, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa).
Apesar da produção ainda baixa, o consumo do tempero no Brasil vem crescendo, aponta a Anapa. Na comparação entre 2020 e 2019 – quando os brasileiros compraram 30 milhões de caixas de 10 kg – o aumento foi de 20%.
Mãos na terra
O alho é uma cultura anual, que possui duas características essenciais para o cultivo: ambiente frio e uma altitude de 300 a 500 metros, pois, além de serem lugares mais gelados, proporcionam dias mais longos, explica a pesquisadora da Embrapa Lenita Haber.
Para a produção em outros ambientes, é usada a técnica de vernalização, que gera o alho nobre, que possui uma cabeça roxa e é o mais popular no Brasil. Nela, o alho é colocado em uma câmara fria, por até 60 dias, com uma temperatura em torno de 3°C e com a umidade controlada.
A produção do alho também é muito manual, por causa das especificidades da plantação, que dificultam a mecanização.
Um exemplo disso é a questão do alho ter de ser plantado com a sua parte mais fina para cima, como se o dente estivesse em pé. Se ele for plantado ao contrário, não se desenvolverá porque a raiz saí pela parte mais larga dele. Atualmente, as máquinas ainda não conseguem precisar esse fator.
Futuro
Lenita acredita que este tempero pode se tornar autossuficiente para abastecer o Brasil no futuro. Isso por causa do aumento de área plantada e da produtividade, motivado, principalmente, pelo avanço do alho em outras regiões do país, inclusive as mais quentes, graças a tecnologias como a irrigação.
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Do bar ao vaso ornamental
Brasileiro consome 0,5 g por dia.
Divulgação
Em todo boteco, pastelaria ou restaurante há aqueles molhos de pimenta. Eles são feitos a partir da família da Pimenta Capsicum, que, no Brasil, é produzida majoritariamente pela agricultura familiar associada à indústria processadora. Esta, além de criar os molhos, desenvolvem as conservas, conta a pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Cláudia Ribeiro.
Em 2015, o consumo per capta diário da pimenta era de 0,5 g por dia, aponta a analista Lenita Haber.
Mãos na terra
Assim como o alho, a pimenta ainda exige uma grande mão de obra e sofre com a falta de variedades de máquinas que atendam a colheita da pimenta. Por existir muita diversidade de pimenta, uma única máquina não consegue se adequar a todas elas e pode quebrar galhos, levar a perda dos frutos e prejudicar a produtividade.
Por esta razão, os agricultores investem em áreas menores de plantio, em torno de 2 a 5 hectares, para economizar em pessoal, conta Cláudia. Ao todo, a Embrapa estima que o Brasil tenha 5 mil hectares de área cultivada, gerando anualmente 75 mil toneladas da especiaria.
Contudo, Cláudia entende que este número deve ser menor do que o valor real. Isto porque, por se tratar de um setor majoritariamente de pequenos produtores, existem dados não relatados.
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Futuro
Cláudia tem observado também uma alteração no nicho de mercado da pimenta, que agora tem sido viabilizada para cultivo em vasos, não apenas para decorar a casa, mas também para consumo próprio.
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Além disso, ela acredita que o futuro da pimenta estará juntamente ao mercado de orgânicos.
“Mas é preciso avaliar melhor as demandas dos sistemas agroecológicos para o desenvolvimento de cultivares que atendam demandas específicas do setor, como resistência a pragas e doenças”, explica.
A pesquisadora realça também a importância de “cultivares mais eficientes na absorção de nutrientes, que se adaptem melhor a sistemas de consórcios e rotações que atendam demandas específicas de produtos processados para o mercado orgânico”.
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Fonte:

G1 > AGRO

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