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Quilombolas do interior de SP aliam produção orgânica com preservação da origem africana

São mais de 30 famílias que vivem no quilombo Cafundó, onde produzem alimentos para merenda escolar, feiras e cestas para o consumidor. Quilombolas do interior de SP aliam produção orgânica com preservação da origem africana
A agricultura está transformando a vida de quilombolas no interior de São Paulo. Na comunidade Cafundó, em Salta de Pirapora, os moradores buscam formas para sair da condição de isolamento.
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Os quilombos no Brasil se originaram como comunidades formadas por escravizados, refugiados ou quem tinha sido libertado. No casso do Cafundó, ele surgiu em 1876, quando um fazendeiro doou aos negros uma porção de terras.
Com o passar do tempo, parte da área foi sendo perdida, ocupada por grileiros, e os quilombolas ficaram apenas com a vila de casas.
O Cafundó foi reconhecido pelo Instituto de Terras de São Paulo (Itesp) como comunidade quilombola, em 1999. O título definitivo das áreas ainda não saiu, mas já conseguem, desde 2012, usar as terras, com a concessão por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Atualmente, comunidade ainda briga na Justiça para reaver parte das terras que foram griladas. Por lá, mais de 30 famílias vivem hoje no quilombo, em uma área de 218 hectares, parte deles usados para a atividade agrícola. As áreas são coletivas, mas cada quilombola cuida de um pedaço.
Além da renda obtida na agricultura, a comunidade recebe recursos de programas de governo e indenização de uma empresa que extrai areia de uma área do quilombo. Com essas rendas, já conseguiram investir em galpões, estufas e trator, por exemplo.
A produção
A produção agrícola do quilombo sempre foi feita de forma mais natural, sem uso de produto químico, mas também sem tecnologia. Foi aí que os jovens fizeram a diferença. Foram atrás de conhecimento e trouxeram o conceito de agricultura orgânica.
Produzir alimentos sem nada de agrotóxicos e, ao mesmo tempo, ganhar mais pelo produto. Foi isso que motivou o Alex, morador que é nascido e criado no quilombo. Há quatro anos, deixou o serviço na construção civil para se dedicar à roça.
“Foi na curiosidade mesmo, foi quebrando a cabeça, na verdade. Fiz alguns cursos. Eu sou aquela pessoa que tem a mente aberta… vou, converso…” explica.
A horta dele ocupa 1,5 hectare com irrigação. Será o primeiro do quilombo a receber o selo de produtor orgânico, já está na fase final do processo e vai poder vender para supermercados.
De olho no futuro, eles vão diversificando e já produzem milho, mandioca e colheram sua primeira safra de feijão.
Do que é arrecadado, 23% fica com a associação que gere o quilombo. O dinheiro serve para pagar os custos do local e também para pagar o salário de um técnico agrícola.
As vendas
Até a pandemia começar, a renda do quilombo era garantida. Isso porque eles vendiam boa parte da produção para merenda escolar e outra parte ia para feiras.
Porém, de um dia pro outro, tudo mudou por causa da pandemia de coronavírus, já que escolas fecharam e as feiras livres ficaram meses sem ocorrer.
Só que, ao mesmo tempo, uma surpresa: os pedidos de cestas orgânicas dispararam.
“É até engraçado porque, em uma semana, a gente teve só 5 pedidos. Veio a pandemia e, na outra semana, foi para 60 pedidos. A gente ficou em choque, mas, graças a Deus, conseguimos”, relembra a quilombola Amanda Pires, que cuida das contas da associação.
Com as vendas de cestas indo bem, em dias de entrega, tem mutirão na comunidade. E as entregas são feitas com a única caminhonete da associação.
“Muitos ficam curiosos… ‘o que esses negrinhos estão fazendo nessa caminhonete, entregando uma cesta?’ Tem aquela desconfiança. Em um condomínio onde eu vou, o segurança chegou até a revistar a caminhonete”, diz Alex.
Preservação da origem
Se o quilombo Cafundó se transformou, muito tem a ver com uma mulher: Regina Pereira, que vive há 17 anos na comunidade e assumiu a causa.
“Eu nasci e cresci na cidade, mas quando eu vim aqui para o Cafundó, eu reconheci a minha história. Conversando com eles, eu tive a consciência de que eu também sou quilombola, eu não sabia disso”, conta Regina.
Ela liderou as ações para recuperar as terras e ajudou a resgatar a autoestima dos quilombolas, principalmente dos jovens.
“Eu procuro falar com os meninos que não tem que ter vergonha de ser negro, afinal de contas a gente fez uma história. Não só aqui no Cafundó, o negro tem uma história importante”, diz.
Já os mais velhos da comunidade guardam uma relíquia: a língua dos escravizados, usada por eles até hoje. E a descoberta dessa forma de se comunicar foi fundamental para o reconhecimento do Cafundó como quilombo.
Para eles, a língua é uma questão de resistência e sobrevivência. O dialeto se chama cupópia, uma mistura de português com palavras de línguas da região de Angola, uma herança dos antepassados que o quilombo tenta preservar.
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Fonte:

G1 > AGRO

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