Iniciativas anunciadas recentemente por JBS e Marfrig pretendem acabar com um dos principais problemas que relacionam a pecuária ao desmatamento ilegal: a falta de controle dos fornecedores indiretos. Fazenda de criação de gado na Amazônia
Mauro Lúcio Costa/Arquivo pessoal
A JBS, líder mundial na produção de carnes, anunciou nesta quarta-feira (23) iniciativas para combater o desmatamento, especialmente na Amazônia. Em julho, a Marfrig, outro grande frigorífico brasileiro, também anunciou medidas neste sentido.
As iniciativas surgem em um contexto em que o desmatamento na Amazônia e os incêndios no Pantanal colocam o Brasil novamente como alvo de questionamentos internacionais por conta de sua política ambiental.
Entre os anúncios da JBS desta quarta, estão a criação de um fundo para financiar projetos sustentáveis na região e o mapeamento de toda a cadeia de fornecedores da companhia.
Esta última iniciativa pretende atacar um dos pontos que mais associam a pecuária ao desmatamento ilegal, que são os fornecedores indiretos.
O motivo é que existem algumas triangulações, já apontadas pelo Ministério Público, entre pecuaristas irregulares, que vendem animais para produtores rurais que estão em dia com a lei, para que eles possam comercializar o gado com o frigorífico.
Essa brecha acaba mantendo na atividade criadores que podem ter cometido crimes ambientais ou ter utilizado de mão de obra análoga à escravidão.
Até o momento, as empresas costumam monitorar apenas seus fornecedores primários, ou seja, quem vende diretamente para a companhia. Nesse acompanhamento, a JBS afirma que mais de 9 mil propriedades rurais tiveram suas vendas bloqueadas por irregularidades.
A partir deste ano, a empresa vai criar a Plataforma Verde JBS, que passará a monitorar também todos os “fornecedores dos fornecedores”, mesma proposta do Plano Marfrig Verde+.
A ideia é que esses vendedores indiretos também sigam as políticas de compra das empresas, que são:
Não desmatar a fazenda após 2009, seja o desmatamento legal ou ilegal;
Apresentar a documentação de posse da propriedade;
Fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é onde produtores colocam a localização e dados de sua propriedade para que o governo possa ver se ele está seguindo a legislação ambiental;
Propriedade não pode estar em área de terra indígena, terra pública ou unidade de conservação;
Não pode estar embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama);
Não pode estar na lista suja do trabalho escravo da Secretária do Trabalho, antigo Ministério do Trabalho.
A JBS promete que, até o fim de 2025, só irá comprar de pecuaristas que aderiram ao programa. A Marfrig afirma que o prazo dela é até 2030.
Como vai ser o monitoramento?
Para viabilizar esses projetos, JBS e Marfrig dizem que vão desenvolver uma plataforma baseada em blockchain para cruzar dados das Guias de Trânsito Animal (GTA) de todos seus fornecedores.
Porém, como este documento é sigiloso, as companhias vão precisar da autorização de todos os pecuaristas que vendem para ela.
“Acreditamos que vamos conseguir convencer o pecuarista a autorizar o compartilhamento dessas informações. Nossa ideia é criar um ‘cadastro positivo’ da pecuária brasileira”, disse Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade da JBS, durante coletiva de imprensa.
Pecuarista da Amazônia conta história na atividade
A JBS, que afirma monitorar diariamente mais de 50 mil fornecedores pelo país, em uma área maior do que a Alemanha, prometeu disponibilizar seu sistema de checagem de propriedades rurais para outros interessados.
Além disso, afirma que vai oferecer assistência técnica para que os pecuaristas irregulares possam regularizar sua situação.
Fundo da JBS para projetos de preservação
Além da ampliação do monitoramento de pecuaristas, a empresa também anunciou a criação de um fundo para incentivar iniciativas de preservação na Amazônia.
Este fundo terá um aporte inicial de R$ 250 milhões, feito pela própria JBS. O projeto vai contar com a doação de outros interessados, como empresas, fundações e fundos de investimento. O objetivo é arrecadar R$ 1 bilhão até 2030.
A companhia se comprometeu que, a cada R$ 1 doado, doará também R$ 1 até R$ 250 milhões. Se isso for alcançado, as doações da companhia para o fundo chegarão a R$ 500 milhões.
Para gerir os recursos deste fundo, a empresa criou um conselho de administração, que será composto por pesquisadores, representantes do varejo, do agronegócio e de ONGs de proteção ao meio ambiente.
São esses profissionais que vão escolher quais projetos receberão apoio financeiro do fundo, que passará sempre por auditoria externa.
Marfrig também promete fundo
Em julho, a Marfrig também prometeu que terá a cadeia de produção livre de desmatamento, porém o prazo será maior: até 2030. Além de afirmar que vai oferecer assistência técnica para que os pecuaristas se enquadrem na política de compras da empresa.
“Até 2025, a meta é atingir a total rastreabilidade da cadeia de fornecimento da Marfrig na Amazônia. Nos próximos dez anos, a empresa deve fazer o mesmo com o Cerrado e os demais biomas, chegando assim ao desmatamento zero até 2030”, disse a empresa à época.
O grupo prometeu o investimento de R$ 500 milhões em ações de sustentabilidade até 2030.
VÍDEOS: mais notícias do agronegócio
G1 > AGRO
Comentários do Facebook