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Parceria entre pesquisa e agricultores de Minas Gerais incentiva a produção comercial da manga Ubá

Fruta tradicional da Zona da Mata mineira quase desapareceu, mas união permitiu a retomada do cultivo em larga escala do alimento. Parceria entre pesquisa e agricultores de Minas Gerais incentiva a produção da manga Ubá
A manga Ubá faz parte da história da Zona da Mata de Minas Gerais, mas essa fruta típica da região quase desapareceu, se não fosse um movimento que envolveu milhares de pessoas e que transformou o alimento em um produto agrícola de larga escala comercial.
O nome da manga é inspirado na cidade de Ubá, que fica a 300 km de Belo Horizonte. Neste município havia apenas duas riquezas: o fumo em corda e fruta. O fumo foi embora, mas a manga continua, e é o sustento de muitas famílias da região.
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Menor se comparada às gigantes americanas Tommy Atkins e Palmer, a manga Ubá é um fenômeno pela sua doçura e textura com menos fiapos.
“É o mel dourado, que a gente fala, por causa da cor dela, bem amarelinha, mas é só experimentando para você saber o que ela tem de especial”, explica a jornalista Amanda Pacelli.
Nativa do sudeste asiático – como toda manda – a Ubá chegou por aqui na bagagem de um imigrante italiano, no final do século 19. A professora Elazir Carrara conta que, ao encontrar clima e solo favoráveis na região, ela logo se espalhou.
“Toda casa aqui em Ubá tinha uma ou mais mangueiras porque a manga dava qualquer lugar, então se falava que quem tinha um pé de manga em casa não passava fome”, recorda Elazir.
Quase desapareceu
Porém, houve um tempo em que toda essa fartura deu lugar à preocupação. Cerca de 25 anos atrás, um ambientalista da cidade concluiu que a manga Ubá estava a perigo.
“Com o fim das mangueiras de quintal, devido ao crescimento imobiliário desordenado, e a verticalização da cidade, as mangueiras estavam acabando e, com elas, acabando as mangas”, explica o ambientalista Ronaldo Mazzei.
Foi aí então que Mazzei procurou a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do estado para formar um parceria. A ideia foi produzir mais mudas para incentivar a produção.
Para conseguir formar novas plantas, os técnicos pediam que os moradores da região entregassem o caroço da fruta.
“A adesão foi tamanha que nós tivemos que parar com o recolhimento antes do tempo porque não tinha onde colocar mais”, lembra o ambientalista.
A ideia era conseguir caroço suficiente para produzir duas mil mudas para serem plantadas em 20 hectares, longe da cidade, na zona rural.
“Nós tínhamos que transformar a manga, então, em um programa comercial, um produto agrícola que gerasse renda para os produtores rurais de Ubá”, explica Mazzei.
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) cedeu um viveiro para a produção das mudas e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) ofereceu pesquisadores treinados para fazer a enxertia.
Com um trabalho bem feito pelos técnicos, as mudas enxertadas já ofereciam frutos a partir do segundo ano de cultivo em vez dos 7 anos tradicionais.
“Foi um ótimo negócio que eu fiz. Graças a Deus, todo mundo tem seu carrinho, seus confortos através da manga”, comemora o agricultor Everardo Contin.
Ele começou plantando 250 mudas que ganhou da campanha. Diante do bom resultado, ele hoje cultiva mais de 2.500 pés de manga Ubá.
“Sem agrotóxico, sem doença, sem problema de irrigação… qualquer lugar que plantar manga na região de Ubá, ela produz muito bem”, resume Contin.
Essa manga rústica e produtiva chamou a atenção de Carlos Salomão, professor da UFV, que tem a maior coleção de mangas do país.
Ele e outros colegas trabalham no melhoramento genético da fruta e, ao estudar mais sobre a Ubá, chegou a comprovação científica do que todos da região já sabiam.
“Nós temos uma escala, que a gente chama de graus brix, então quanto maior ele, maior teor de açúcar da fruta. Para efeito de comparação, a manga Tommy Atkins, referência internacional em qualidade, tem brix de 16, aproximadamente. Eu tenho Ubá que passa de 25”, explica.
A mangada
Com tanta doçura, a manga Ubá também faz a renda para quem produz o doce da fruta, a mangada, ou quem vende a polpa da fruta.
O casal Sebastião e Rosângela de Souza, por exemplo, processam mais de 1.500 caixas de manga por safra para fazer a mangada.
A produção é semi artesanal, o casal lava e descasca os frutos e uma máquina tira a polpa deles. Depois, um pá elétrica faz o serviço de mexer tudo no tacho.
Nessa etapa, que dura de 3 a 4 horas, basta cuidar para não faltar lenha e, claro, para o doce não passar do ponto. Sebastião afirma que aprendeu a receita com o pai e que a mangada garantiu a criação de toda a família.
Mercado da polpa
Além de apreciar uma boa mangada, morador de Ubá que se preze também costuma ter sempre no freezer de casa um saquinho com polpa congelada para fazer suco.
Teve gente que viu potencial de negócio nisso e fez o sabor e o aroma da manga Ubá cruzarem fronteiras.
O empresário Maurício Campo criou a primeira fábrica para industrializar a polpa. Atualmente, ele vende no Brasil todo e para mais 12 países, incluindo Austrália e Estados Unidos, que têm alta tecnologia em manga.
A fábrica conta hoje com um pomar de 8 mil pés de manga e compra também a produção de outros 120 agricultores da região. Ao todo, são mais de 200 mil mangueiras.
Além do suco, a empresa também vende a polpa da manga Ubá, que vai para exportação. O produto, após passar por um tipo de pasteurização, dura 18 meses sem refrigeração.
O ‘balançador de mangas’
Uma profissão característica de Ubá é a de “balançador de mangas”. A tática é simples, o produtor ou trabalhador rural sobe na árvore, balança os galhos da árvore para que o frutos verdes caiam e sejam colhidos. O fruto verde vale mais no mercado.
O produtor rural Teófilo Amaral, de 74 anos, é um dos balançadores de manga. Ele tem 200 pés de manga Ubá e colhe de 2 a 3 mil caixas com 250 frutas por safra. Ele vende por cerca de R$ 10.
“Aqui na nossa região (a manga) é o mais forte… O carro-chefe nosso atualmente aqui é manga”, afirma.
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Fonte:

G1 > AGRO

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