No arquipélago de Samoa, arqueólogos estão usando novas tecnologias para desvendar os segredos de uma das maiores e mais antigas estruturas de pedra da Polinésia. O Monte Pulemelei é uma das maiores e mais antigas estruturas de pedra da Polinésia
BBC
Em meio às densas florestas de Samoa, ao longo de trilhas de difícil acesso, encontra-se escondido o que os arqueólogos chamam de segredo mais bem guardado do Pacífico Sul.
São cerca de 80 estruturas antigas em forma de estrela que, mesmo após diversas escavações, continuam a intrigar especialistas.
E agora arqueólogos e historiadores estão usando a maior dessas maravilhas de pedra para contestar certas crenças sobre a história de Samoa.
Com 12m de altura e uma base de 65m por 60m, o Monte Pulemelei, localizado na Ilha Savai’i, em Samoa, é uma das maiores e mais antigas estruturas de pedra da Polinésia.
Muitas vezes chamado de pirâmide, apesar do topo plano, ele foi provavelmente construído por etapas a partir de 1.000 d.C. e acredita-se que tenha sido abandonado há cerca de 200 a 300 anos.
Oculta pela vegetação, sua estrutura contém oito pontas, dando a aparência de uma estrela vista de cima. Parece ser orientada pelos pontos cardeais e é cercada por vários montes menores também em formato de estrela.
Até hoje, ninguém foi capaz de desvendar seu real significado. Feita de rochas vulcânicas, a estrutura pode ter sido usada para cerimônias religiosas, funerais, ponto estratégico de observação ou até mesmo para competições de caça a pombos, de acordo com algumas teorias vigentes.
“De um ponto de vista estritamente arqueológico, eu diria que elas provavelmente eram usadas para algum tipo de ritual. Quando olhamos para vilarejos modernos, vemos que geralmente não há apenas uma igreja, mas várias dentro de um mesmo vilarejo”, sugere o pesquisador Greg Jackmond, do Centro de Estudos de Samoa, da Universidade Nacional de Samoa.
“E, quando olhamos ao redor, não vemos apenas um ‘monte estelar’ isolado. Encontramos vários em alguns lugares.”
A pirâmide foi engolida pela floresta e arqueólogos estão tentando escavá-la
BBC
A população local também tem suas teorias:
“Antigamente, os líderes das aldeias se reuniam nesses ‘montes estelares’. Meus avós me contaram tudo sobre esses montes estelares”, diz Evaria Jacinta Leituala.
Há ainda quem diga que os “montes estelares” eram usados para um ritual em que os líderes das aldeias competiam para capturar pombos.
“Os líderes das aldeias (também) usavam-nos para capturar pombos. Você pode ver que há oito pontas, cada líder ficava em uma delas”, conta Leituala Filipo Leituala, prefeito de Vaito’omuli, na Ilha Savai’i.
O fato é que a floresta densa e o terreno acidentado dificultam a realização de pesquisas e escavações nas proximidades.
“Mesmo com uma equipe de 20 ou 30 pessoas, só conseguimos realmente limpar a área ao redor do monte e ver essas estruturas em detalhes. Não conseguimos ter a dimensão de quantos sítios arqueológicos realmente existiam”, conta o arqueólogo Geoffrey Clark, da Universidade Nacional Australiana, sobre a escavação realizada de 2002 a 2004.
Mas um mapeamento a laser da área ao redor do Monte Pulemelei forneceu uma pista vital para os arqueólogos.
A tecnologia revelou uma vasta rede de ruínas sob a copa das árvores – vias de acesso, sistemas de drenagem e “montes estelares” compõem a paisagem.
Para especialistas, é a evidência da existência de um assentamento pré-colonial inteiro que prosperou antes da chegada dos europeus em 1722.
“Enviei essas informações para um colega que é arqueólogo, mas também urbanista. Quando ele viu o material, disse: ‘Isso parece o que eu vejo todos os dias na área de planejamento urbano’”, conta Jackmond.
A nova descoberta indica que a população de Samoa antes da colonização era muito maior do que se pensava anteriormente.
“O que pensávamos e acreditávamos que aconteceu em Samoa é totalmente diferente do que realmente aconteceu aqui”, acrescenta.
E sugere que a taxa de mortalidade da população do arquipélago em decorrência da colonização tenha sido de cerca de 80% a 90% em algumas áreas – um aumento acentuado em relação à estimativa aceita anteriormente.
“Sabemos que a mortalidade populacional por contato cultural e exposição a novas doenças provavelmente eliminou cerca de 20% a 50% da população”, diz Clark.
“Mas quando acrescentamos instabilidade social, guerra, fome e introdução de armas de metal e projéteis, isso sugere, na verdade, que a dimensão do despovoamento foi muito maior e pode chegar a ser de 80% a 90% em algumas áreas.”
G1 > Turismo e Viagem
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